Depoimento: Queen, eu fui por Tico Sta Cruz, Jornal do Brasil

ESPECIAL PARA O JB – Os súditos apareceram, participaram, cantaram, levantaram os braços em coreografias sincronizadas e deram um show à parte. Vinte e três anos depois, a “Rainha” retornou ao Brasil para uma turnê com Paul Rodgers nos vocais, anteontem à noite, na HSBC Arena, na Barra da Tijuca.

Convidado pelo Jornal do Brasil para escrever sobre a apresentação, fui pego de surpresa, pois confesso a todos: minha imparcialidade com relação ao trabalho do Queen garante um tom de liberdade maior a este relato. Não tem a visão de um fã da banda, até porque minha formação musical não os inclui como pilar, embora, após o espetáculo, tenha percebido que suas músicas fazem mais parte de minha vida do que imaginava.

Meu primeiro passo fora observar o público presente e reparei que as idades eram das mais variadas. Estavam desde famílias com crianças até fiéis remanescentes do Rock in Rio, quando os ingleses estiveram por aqui pela primeira vez. Em meio a um mar de celulares e câmeras fotográficas que emitiam luzes da platéia, havia a boa e velha turma dos isqueiros em riste, que disputava minha atenção ao longo das clássicas baladas do Queen.

Uma desconfiança insistia em me perturbar: seria possível me emocionar com uma banda que historicamente ficou marcada pela estrela e a voz de um dos maiores cantores de todos os tempos mesmo na ausência dele? Durante as quatro primeiras músicas fiquei ressabiado, prestando atenção, e talvez por implicância quis crer que soava apenas como um bom cover.

A presença de Brian May (guitarra) e Roger Taylor (bateria) não significava necessariamente que o Queen estava diante de meus olhos. Fui deixando me levar pela excelente voz do não menos competente Paul Rodgers e me esforçando ao máximo para não fazer comparações idiotas.

O poder da boa música foi prevalecendo à medida que o repertório avançava. Meus braços, que no começo estavam cruzados, não resistiram à levada de Another one bites the dust, seguida de I want to break free. Aos poucos fui me familiarizando com as canções e logo percebi que não havia mais volta. Estava, sim, diante da “Rainha” e em sua presença aconteceu de tudo um pouco no dominado território carioca. Solo de bateria e firulas divertidas de Roger Taylor no cello elétrico do músico de apoio; Brian May ao violão cantando emocionado Love of my life em coro uníssono com o público, depois enxugando as lágrimas; momentos instrumentais que fariam alguns adolescentes mal -acostumados de hoje correrem a passos largos da arena e passagens com a imagem e voz sublime de Freddie Mercury.

Do meio até o fim uma seqüência de hits que manteve a platéia em chamas. Estava provada a máxima de que música boa é atemporal e sempre tem um belo lugar guardado no coração, garganta e na lembrança das pessoas.

Ao fim de Radio ga ga, uma saudade já me apertava o peito. A “Rainha” então mostrou, com perdão do clichê, por que quem é rei nunca perde a majestade e finalizou com um bis maravilhoso que incluiu We will rock you e fechou com o clássico dos clássicos We are the champions. Tecnicamente tudo saiu perfeito. O som soava bem, a iluminação mesclava momentos de intensidade e brilho com penumbra em tons de roxo, vermelho e azul. No telão, imagens de raios, asteróides e estrelas – referência provável ao novo disco da banda, The cosmos rock, que teve algumas músicas tocadas e recebidas com consideração, mas também com certa frieza pelos fãs. Saí de lá com uma felicidade mágica estampada em meu rosto e a certeza de que, se Freddie Mercury não tivesse partido cedo demais deste planeta, o show teria sido realizado no Maracanã com os ingressos esgotados.

Senhoras e senhores, como estampava a camisa preta vendida pelos ambulantes: “Queen, eu fui”.

http://jbonline.terra.com.br/extra/2008/11/30/e30116747.html

Alexandre Portela

Fã do Queen desde 1991. Amante, fascinado pela banda e seus integrantes. Principalmente Freddie! =)

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