Paris, 1999. Em uma das peregrinações pela Europa, sempre com roteiros ligados à história do rock, o jornalista Sérgio Pereira Couto visitava o prédio onde Jim Morrison morreu na famosa Rue de Beautreillis. Parado em frente ao local, sem ninguém por perto, ele procurava pela janela do apartamento do líder do The Doors quando um senhor surge e aponta a direção correta. Sérgio fez o seu tão esperado registro fotográfico e, ao se virar para agradecer a informação, a pessoa havia sumido da mesma forma abrupta e imperceptível que chegou. “Ao contar esse ‘causo’, todos me falaram a mesma coisa: que o velho era o próprio Jim Morrison e que ele estava ‘tirando sarro’ de mim ao apontar para o local onde ele ‘supostamente’ morreu. De fato, foi uma experiência de arrepiar”, conta o jornalista.
Ter vivenciado uma estória como essa dá a dimensão exata do envolvimento de Sérgio Couto com o rock e seus personagens. Não é à toa, portanto, que ele tenha tido a ideia de reunir em livro tudo de inusitado que rodeia esse clássico universo musical. “Boatos sempre foram um atrativo para despertar o interesse das pessoas pelas celebridades. O mundo do rock, entretanto, tem histórias que ultrapassam essa barreira e se misturam de tal maneira com a vida real que criam verdadeiras lendas, ídolos que fascinam fãs e interessados no assunto”, afirma o autor.
‘O rock errou?’
“Os maiores boatos, lendas e teorias da conspiração do mundo do rock” aborda estórias que envolvem grandes nomes da música como Beatles, Kurt Cobain, o já citado Jim Morrison, Alice Cooper e Rolling Stones, todos prodigiosos em excentricidades e capazes de fornecer um extenso material, tanto que o projeto original engloba pelo menos seis livros. As obras podem ser lançadas posteriormente, dependendo da recepção do público ao atual volume. “Dei preferência aos boatos mais conhecidos, como a morte de Paul McCartney ou o sincronismo do Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, com o filme O Mágico de Oz”, diz Sérgio Couto.
Perguntado se as bandas atuais conseguiriam rivalizar com as clássicas e, quem sabe, daqui a algum tempo poderiam render um livro similar, Couto é descrente: “Acho possível, mas difícil. As bandas de antigamente eram mais suscetíveis a essas estórias porque não havia internet. Hoje, com a massificação da mídia e o modo instantâneo como a notícia se propaga, pode sim haver alguns ‘causos’, mas logo perdem a graça porque são fáceis de serem provados como farsa. Estraga a fantasia”.E por falar em internet, a reunião de curiosidades musicais e outras listas do tipo são facilmente encontradas em milhares de páginas online, o que leva à pergunta: qual é o diferencial que o livro traz aos leitores? O argumento de Couto ataca a superficialidade que muitas vezes está vinculada à instantaneidade da informação na era virtual. Assim, as estórias narradas, de acordo com ele, sempre vêm acompanhadas do contexto histórico da banda a que faz referência. “Pode parecer que não, mas há pessoas hoje que conhecem as bandas mais clássicas apenas de nome. Não sabem muitos detalhes da trajetória ou do contexto histórico em que tais músicas foram criadas e como surgiram as lendas abordadas”, diz.
O autor exemplifica a tese com a vaga ou nenhuma lembrança entre as pessoas de que o suposto caso de Mick Jagger com David Bowie surgiu da época do projeto We Are The World, quando lançaram o single Dancing In the Streets, por exemplo, e que esse foi o real motivo pelo qual os dois se encontravam. “Foi o primeiro? Por que Bowie, que já gravou com Freddie Mercury e John Lennon, nunca foi acusado de ter caso com esses astros? E quem era afinal Angela Bowie, que fez a acusação em programas de TV e depois voltou atrás?”.
Teorias e conspirações
Como se vê, muitas perguntas e nenhuma resposta concreta. Teorias, por outro lado, são numerosas. E com a experiência de quem já escreveu um livro sobre sociedades secretas, Couto não vê muita diferença entre as “conspirações” roqueiras e as que têm origem religiosa ou política. “O contexto religioso é sempre presente. Tanto que bandas como Dio, Black Sabbath, Metallica e outras, abusam da simbologia de mitos e lendas em suas músicas, o que gera suas próprias lendas”, comenta.Ele cita também como exemplo a criação do Clube dos 27, os artistas que morreram ao atingir essa idade. Segundo o jornalista, a lista dos integrantes vai muito além dos “J” famosos (Janis Joplin, Jim Morrison) e engloba até mesmo músicos que nunca foram citados como sendo do meio, como Pigpen, do Grateful Dead, Dave Alexander, dos Stooges, Pete de Freitas, do Echo and the Bunnymen, dentre outros. E o lado político também não é esquecido. “A origem das mascotes é outro exemplo. O Eddie, do Iron Maiden, ser uma representação distorcida do Império britânico ou uma representação do roqueiro depois de morto parece mais um delírio do que a verdadeira intenção do criador do personagem”.
Ainda assim, estejam certos ou errados, que tenham um fundo de verdade ou não passem de devaneios de fãs, esse boatos, lendas e teorias da conspiração na história do rock servem a um propósito bem definido e totalmente válido, segundo o jornalista: “É um livro para ler e discutir em mesa de bar com os amigos roqueiros”. Realmente, melhor objetivo não há.
Fonte: www.diarioonline.com.br/
Dica de: Roberto Mercury