Agressivo, performático e politicamente incorreto, Jonnata Doll é do tempo que rock tinha atitude. A palavra virou clichê, mas ele é nossa aposta na música para 2012
Quando Dado Villa-Lobos chamou o cearense Jonnata Doll para cantar no seu show na Praça Verde do Centro Dragão do Mar, afirmando ser alguém que “logo todos vão conhecer”, uma parte do público levou um susto. Contrastando com a figura séria e sóbria do guitarrista da Legião Urbana, o vocalista dos Garotos Solventes remexia seus 57 kg como se estivesse pisando em brasa quente. Por um instante, o anfitrião parecia um coadjuvante.
Diferente da figura que se joga no chão, berra e se contorce, Jonnata Araújo dos Santos, 30, é bem dócil fora do palco e até se diz tímido. Convidado pelo O POVO para contar sobre sua vida e sua carreira, ele antes pediu uma cerveja para acalmar os nervos antes de falar. Citando os bares e bordéis da região, e o Motel 90 (onde se já se apresentou), ele mesmo sugeriu que a conversa acontecesse no Passeio Público.
A atração de Jonnata Doll – homenagem à banda New York Dolls – pelo lado marginal da sociedade é como uma resposta aos seus primeiros anos de vida. Crescendo sob as duras regras de uma família evangélica, ele parecia não se interessar muito pelas proibições e já sonhava ter uma banda. Mais ainda quando descobriu o rock no filme The Wall, do diretor Alan Parker baseado no disco da banda Pink Floyd. Morador do Bairro Álvaro Weyne, ele se juntou a uma turma de amigos que apelidou de Jack Boys e passou a perambular pela Cidade trajando jaqueta e blusa do Ramones.
Para realizar seu sonho adolescente, por volta dos 16 anos, Jonnata Doll montou a banda Kohbaia e começou a cantar sobre viciados, prostitutas e outros personagens do submundo. Com o grupo, ele até tocou no Hospital Psiquiátrico Mira y López, só para os pacientes. Implodida por conta de um dos maiores clichês do rock, o abuso das drogas, a banda deu lugar em 2009 aos Garotos Solventes. Ele mesmo já teve problemas com drogas e, negando os arrependimentos, transformou suas experiências em música. No entanto, a mudança para “um esquema mais profissional” não trouxe prejuízo para as performances do vocalista que continua transformando cada show num happening.
Quando pisa num palco, Jonnata se entrega de tal forma que nem ele sabe onde vai acabar. Incorporando deuses da música como Michael Jackson, Freddie Mercury e Jim Morrison, ele se joga no chão, lambe o pedestal do microfone e se rebola como se seu corpo fosse feito de borracha. “Parece que eu tenho que me ferir pro público gostar”, confessa ele meio contrariado antes de mostrar algumas marcas que ganhou. Outra vez, numa calourada, o público começou a arrancar-lhe a roupa até que não lhe sobrasse uma gravata borboleta pra lhe cobrir as vergonhas. “Às vezes isso incomoda. Eu sou músico e quero que a música venha em primeiro lugar”.
Formado em Ciências Sociais, hoje Jonatta divide suas atenções com a música e o trabalho como observador de campo da Fiocruz, onde acompanha viciados em crack. Entre os planos, pretende conhecer melhor a cena musical paulista junto com os Garotos Solventes, com quem também quer gravar logo em breve. Até lá, ele segue falando sobre drogas, desilusões amorosas, prostituição adolescente, pedófilos e outros assuntos nada amenos.
Por quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Jonnata Doll é um dos artistas mais autênticos da cena roqueira fortalezense. Vocalista e principal compositor da banda Garotos Solventes, ele transforma o submundo da Cidade em música.
Fonte: www.opovo.com.br