É uma das mais importantes bandas rock do Planeta e assinala este ano os 40 anos da sua formação. O guitarrista Brian May esteve à conversa com o PT Jornal a propósito dos primeiros anos dos Queen… e não só!
No ano em que se assinalam quatro décadas sobre a formação dos Queen, uma das mais importantes bandas rock do Mundo, acaba de ser reeditado o último pacote da discografia completa do coletivo inglês, liderado pelo malogrado Freddie Mercury, que ontem faria 65 anos de idade.
Por ocasião da exposição «Stormtroopers in Stilettos», que decorreu na Old Truman Brewery, em East End, em Londres, e que retrata os primeiros anos dos Queen, desde a sua formação até à edição do quinto disco «A Day at the Races (1976), o PT Jornal teve uma conversa exclusiva para Portugal com o guitarrista Brian May a propósito do período retratado na exposição, que entretanto segue um périplo pelo Mundo.
O que achou da exposição?
Bem, foi algo bastante emocional… Como havia a festa, havia muita gente… Normalmente, eu e o Roger controlamos as coisas, mas desta vez a editora disse que tratava de tudo e assim foi… E eles colocaram lá os meus arquivos, porque eu sou o arquivista do grupo e eles levaram muito material que tinha guardado, como posters, cartazes, bilhetes, fotos e outras coisas… Mas a editora recorreu também a muitas outras fontes e quando entrei viajei no tempo, porque está muito bem reconstruído o que foram aqueles tempos, mas também foi bastante doloroso… Foi difícil!…
Mas não tinha visto as fotos antes?
Algumas não…
E a exposição vai de encontro ao que recorda daqueles tempos?
Sim, mas também nos lembra muitas coisas que não queremos recordar. Lembro-me o quão pobre éramos e a dificuldade que tivemos, eram tempos difíceis, passámos o tempo a lutar contra tudo e contra todos, porque ninguém entendia o que estávamos a fazer, riam-se de nós, principalmente, a Imprensa… Não tínhamos dinheiro, não tínhamos poder, não tínhamos influência criativa sobre muitas coisas que fazíamos e tínhamos que lutar por cada centímetro que avançávamos… E, depois, vi fotografias que nunca tinha visto de amigos que já perdemos… Já estou habituado ao facto que termos perdido o Freddie, mas é algo com que vivo todos os dias e aprendi a viver em paz com isso, mas muitas das pessoas nas fotos já morreram e é como estar a olhar para um Mundo que já não existe. Por isso, encontrei muita tristeza, pois estão ali amigos, namoradas, artistas que já morreram e é um bocado pesado, pois a exposição está muito realista.
Mas houve uma parte boa, qual foi?
A parte boa é a possibilidade dos mais novos, que até têm uma banda, se inspirarem nesta exposição, verem que não foi fácil, que nós não fomos sempre estas mega-estrelas que somos agora e que as coisas nem sempre correram como queríamos. Espero que isto seja uma inspiração para os mais novos que têm um sonho e que se forem suficientemente fortes conseguem lá chegar.
Esta exposição refere-se apenas aos primeiros anos da banda. Gostariam de fazer uma com a carreira toda?
Não quero saber… [risos] Penso que a editora pretende fazer isso, mas para já fizeram um trabalho extraordinário, refazendo estes primeiros anos e com uma perspetiva diferente. A intenção deles nunca foi alcançar os convertidos, mas apresentar a banda àquelas pessoas que nunca ouviram falar dos Queen, ou nunca perceberam o que a banda fez… Ou seja, sobretudo, os mais novos e aqueles que vieram à exposição viram-nos num plano muito próximo daquilo que eles são. Naquela altura não éramos estrelas rock ricas, apesar de pretendermos sê-lo… [risos] Acho que está muito interessante, pois consegue ver-se para além da cena…
Mas há pessoas que não conhecem os Queen?
Sem dúvida, há toda uma nova geração a aparecer… Muitas vezes penso que tivemos muita sorte por continuarmos a estar atuais, de uma forma que nem os Beatles já estão… Pelo que me apercebo, o pessoal mais novo tende a não saber quem são os Beatles, mas estão ligados a nós… Não sei bem porquê, mas talvez porque nunca fomos apenas uma moda, num momento, mas construímos o que fizemos ao longo do tempo. Talvez por isso não tenhamos passado de moda.
O pensa que a música dos Queen representa para os mais novos?
Não sei, apenas lhes toco as músicas… Estivemos envolvidos na remasterização dos álbuns, recorrendo às velhas gravações e foi fantástico… As remasterizações estão lindas, mais limpas e mais perfeitas do que alguma vez estiveram! Isso deixa-me muito contente. Ouvindo agora o «The Millionaire Waltz» não consigo compreender como fizemos aquilo… É tão incrivelmente complexo e polido… Sinto-me maravilhado, porque éramos uns miúdos, mas conseguimos tudo à conta de muita força de vontade. Sinto-me muito orgulhoso com o que alcançámos.
Porque acha que a Imprensa era tão dura convosco?
Não sei… Talvez por termos feito um caminho ao lado, não termos seguido as raízes e a tenhamos deixado de lado e daí surgissem ciúmes, porque a Imprensa gosta de ajudar a construir as bandas. Talvez nós nunca tivéssemos tempo para ela, nem ela para nós…
D.R.
E isso era uma coisa da banda, ou apenas do Freddie?
Era da banda… Não tínhamos tempo para a Imprensa porque achávamos que eles não sabiam nada sobre o que estávamos a fazer e o que tentávamos era fazer algo diferente.
Há projetos para editar em DVD alguns dos grandes concertos dos Queen deste período, como o de Hyde Park, em 1976, porque não há nada editado ainda?
Sim, temos trabalhado sempre no sentido de trazer essas coisas ao público, mas queremos fazer coisas novas… Não quero viver eternamente no passado. Temos alguns bons projetos em agenda, um deles é o DVD completo do concerto que demos no «Rainbow Theatre» [1974], que muita gente nunca viu, outro da atuação em Budapeste [1986], que está muito bem filmado e editado, mas o que queremos fazer não é apenas restaurá-los, mas convertê-los em 3D, algo em que estou muito interessado. Já fizemos alguns testes… O grande problema é encontrar tempo para fazer estas coisas todas. Há tanta coisa a acontecer no presente, que trabalhar o passado torna-se difícil.
E há alguns inéditos para editar, ou as reedições são isso mesmo apenas?
Há algumas coisas, mas, na maioria dos casos, rejeitámo-las na altura por boas razões… Atualmente, eu e o Roger [Taylor] estamos a trabalhar num tema que encontrámos, que foi negligenciado e o pessoal esqueceu-se dele, mas poderá ser algo bom a fazermos… Não há um álbum inteiro, mas há algumas coisas interessantes para pegarmos. Fico relutante, porque não gosto de viver no passado. Podia passar o resto dos meus dias de volta dessas coisas, mas não quero, gosto do presente, a minha vida está diferente e não sou apenas Queen. Estou orgulhoso dos Queen, mas tive que crescer e há muitas coisas que queria fazer e não fiz… Por exemplo, prometi a mim mesmo que iria trabalhar para ajudar a cuidar de animais. Como raça sinto que estamos muito errados por abusarmos dos animais e toda a relação que nós, enquanto animais, temos com os animais está completamente errada e ando em campanha para tentar mudar isso. Não posso mudar muito, mas prometi a mim mesmo que dedicaria algum tempo a essa causa e é o que tenho feito. Portanto, quando os Queen chamam eu digo presente, mas musicalmente gosto de fazer coisas novas também. Ando há anos a fazer este álbum «Anthems» para a Kerry e isto é parte do futuro, pois estou a fazer coisas que nunca fiz, como trabalhar juntamente guitarras com orquestras, em grandes cenários e que vai para a estrada em maio… E nunca fiz um concerto inteiro com uma banda, uma orquestra e um coro completos em palco!… É muito trabalho, mas adoro estes desafios e não quero verdadeiramente passar todo o meu tempo a recriar o material dos Queen. Gosto muito do 3D, aqui na exposição já temos uma experiência com o «Bohemian Rapsody», mas ainda não está como queremos. Não sei porquê, mas o 3D é uma paixão que tenho.
D.R.
E ainda estão envolvidos no filme que vai ser feito sobre a vida do Freddie Mercury, com Sasha Cohen como protagonista?
Sim. Tivemos muita sorte, porque resistimos durante muito tempo a algo do género… Tivemos muitos convites e dissemos sempre que não, mas achámos que agora era o momento certo e as pessoas certas para o fazerem. O Peter Morgan é um excelente e respeitado argumentista, Sasha Baron Cohen tem uma enorme paixão pelo Freddie, é obcecado, e sei que fará um grande trabalho… Ele e o Freddie têm muitas parecenças, ambos são muito destemidos e atrevidos… O Freddie estava sempre a gozar consigo próprio e com os outros, algo que muita gente nunca entendeu… Penso que o Sasha será um ótimo canal para o Freddie.
Haverá igualmente alguém a fazer de Brian May, quem será?
Não sei quem será e não quero saber… [risos] Nós estaremos no filme, mas este é verdadeiramente sobre o Freddie, o seu espírito e como ele se relacionou connosco. Outra boa coisa foi termos encontrado o Graham King, um produtor independente, e em vez de assinarmos um contrato com um grande estúdio de Hollywood e perdermos o controlo sobre o filme, ele tem-nos ajudado sem nos tirar o controlo. Obviamente, faremos a música do filme e supervisionaremos isso tudo, mas temos uma espécie de missão a cumprir que é proteger o retrato do Freddie no filme.
O que pensa das bandas de agora e que conselho tem para lhes dar?
Acreditem, acreditem, acreditem e mantenham-se juntos. As pessoas têm algumas ideias, mas começam a ficar ricas e famosas e acham-se grandes de mais para os grupos e isso é o fim. A coisa mais preciosa que há é um grupo e o equilíbrio que isso dá. E se conseguirem complementar-se é a coisa mais preciosa que há, trabalhar em grupo…
Disse isso ao Dave Grohl, quando ele esteve na exposição?
Não preciso, porque ele sabe-o. O David passou por muito daquilo que nós passámos, porque também ele perdeu o companheiro de banda e o amigo mais chegado, pelo que partilhamos muito do entendimento destas coisas… Foi incrível que o David tenha continuado e criado novas coisas fantásticas, mas ele entende a dinâmica de um grupo e foi bastante inteligente ao perceber que tinha que dar liberdade ao Taylor [Hawkins] para que a força do grupo crescesse. Eles não são tolos…
Vocês foram sempre os mesmos quatro do princípio ao fim da banda, até que ponto essa química é importante para um grupo criar um som e uma carreira, como vocês fizeram?
É vital, é o ponto a partir do qual tudo se constrói. Tem que ser assim, porque é a nossa vida, passamos mais tempo com os companheiros de banda do que com a família. O grupo é como uma família e tem que ser uma forte e boa família…
Em que momento sentiram que tinham o Mundo aos vossos pés?
Penso que foi quando o tema «Another one bites the dust» atingiu o número 1. Já tínhamos tido outros grandes êxitos, mas este foi o que mais vendeu de todos, porque cruzou mercados, saiu do do rock’n’roll para o da música negra, para a América do Sul e Ásia e por momentos o Mundo foi nosso… Isto acontece a muita gente, porque a onda prossegue o seu caminho, não sei quem será agora… Quem será?
O que ouve atualmente?
Ouço, por exemplo, os Foo Fighters, mas ainda continuo a ouvir Jimi Hendrix, The Beatles, o novo álbum que fiz com a Kerry Ellis, porque estou a trabalhar na versão ao vivo e, então, tenho-o no carro…
O que pensa dos The Darkness afirmarem terem tirado muito de Queen?
Estou muito orgulhoso que eles nos tenham como influência e gosto bastante deles, porque têm o verdadeiro espírito do rock’n’roll. Eles cometeram um erro terrível que foi separarem-se. Isso foi uma tragédia, mas pode ser que a coisa funcione agora que estão novamente juntos e as pessoas estão à espera disso.
E prefere o estúdio ou o palco?
O palco, sem dúvida, os melhores momentos temo-los no palco, mas é preciso trabalhar em estúdio para que esses momentos aconteçam. Adoro o palco. Não tenho nenhuma chama ardente para ser Queen, mas sinto uma grande necessidade de estar em palco. Adoro tocar, sinto-me nas nuvens passado pouco tempo de estar em palco e quero continuar a fazê-lo. A sensação é a mesma, porque não há sensação melhor do que estar em palco e comunicar com uma audiência…
Fonte: www.ptjornal.com
Meu Deus! Que entrevista maravilhosa…
Fiquei realmente muito feliz de ler isso! Sinto que o Brian está bem e com muita energia pra continuar!
Ele é o cara!
Só não gostei muito da parte que ele disse "não tenho nenhuma chama ardente para ser Queen"
Poxa, o que é isso?!? Tem que ser Queen sempre, sim senho! HAHAHAHAHA
Que entrevista perfeita!
Senti que ele não deixará o Queen morrer. 😀