Resenha – Innuendo – Queen

Por: Raphael Chermont


1991. Um ano que se tornaria inesquecível para os fãs de Queen, Freddie e do bom e velho rock’n roll. Porquê? Primeiro, o Queen completaria 20 anos de estrada, unificada como nunca e surpreendente como sempre. Segundo, a trágica morte de Freddie Mercury, uma das vozes mais reverenciadas do mundo, falecendo vítima da Aids, assumida em público apenas 24 horas antes de sua morte. Terceiro, a ressurreição do ‘velho Queen’ com o lançamento do 14º álbum de estúdio entitulado de ‘Innuendo’, com músicas que lembrariam as canções do grupo na década de 70, em um último disco feito com Freddie Mercury vivo.

Vamos por partes. Em 1989, o Queen mal tinha terminado o seu 13º álbum ‘The Miracle’ e já se preparia para construir Innuendo. Sempre comento isso com meus amigos ‘queenianos’, mas acredito que Freddie, vendo sua situação complicadíssima de saúde em decorrência da Aids, reuniu Brian, Roger e John e deve ter dito mais ou menos assim: ‘ Meus amigos, a coisa não está boa pro meu lado. Este álbum poderá ser o último feito comigo e com vocês juntos. Vocês sabem o que devemos fazer. Este álbum, definitivamente, será o melhor álbum feito pela banda. Vamos dar o melhor de cada um de nós. Nós somos os campeões, não somos? Não temos tempo a perder, quero o melhor do Queen neste álbum, pois o show deve continuar.’ Lembrando que isso é uma hipótese criada por mim, não aconteceu. Mas imagino, por causa da tamanha obra prima que o Queen criou. Eles realmente não tinham tempo a perder. A saúde de Freddie decaía pouco a pouco. ”The Miracle” acabara de ser lançado e o grupo já se reunira para gravar ”Innuendo”, entre 1989 e o decorrer do ano de 1990. Durante esse tempo, a mídia consumia muito Freddie e a banda com perguntas sobre a saúde do cantor pois era notável suas mudanças físicas. Freddie estava cada vez mais debilitado e abatido. É bom lembrar que o Queen não realizou shows depois da mágica turnê de 1986, devido principalmente a saúde de Freddie. Apesar de toda pressão da mídia e apreensão dos fãs desconfiados, a banda estava mais unida do que nunca. A exemplo do álbum anterior, todos os créditos das músicas eram atribuídas ao grupo, e não mais somente ao autor real de cada canção criada. Legal né? Bom, por mais que este seja um álbum em que os fãs recebam como um disco muito triste, pois realmente é o último com a presença de Freddie vivo, este álbum é surpreendente. É mesmo impossível não se emocionar com algumas canções, quem realmente é fã não irá resistir em se arrepiar, se emocionar e viver cada canção, cada suspiro de Freddie. Mas vamos pensar o quanto Freddie batalhou para dar-nos este presente, este álbum fantástico e recheado de tesouros musicais para os admiradores do rock. Convido vocês a desfrutarem junto comigo um dos melhores álbuns que o Queen já fez, faixa por faixa.

”Innuendo” – O disco começa com a canção título do álbum e começa também com o tarol de Roger Taylor vibrando. 1,2,3,4. Boom! Ao mesmo tempo em que escrevo aqui, coloco o disco em reprodução e ouço cada faixa que resenho, para sentir totalmente o ”feeling” do momento. Difícil descrever em palavras o que sinto ao ouvir essa canção, mas ela é exatamente um ”boom”, uma explosão de sonoridade. Lembram que eu disse que o Queen tinha voltado a ser o grupo da década de 70? Então, ta aí. E não só isso. Roger Taylor, em uma entrevista, disse que esta canção ainda serviu de homenagem à lendária banda ”Led Zeppelin” e sua canção ”Kashimir”. Ou seja, juntando tudo isso, tinha tudo pra dar certo. E deu. Muitos fãs dizem que esta é uma das melhores, se não, a melhor música do Queen de todos os tempos. E eu, me incluo nesse grupo.

”I’m Going Slightly Mad” – Segunda canção e uma canção bem maluquinha. Afinal, o próprio título da canção diz tudo. Ela traz um ar meio psicodélico, com Freddie cantando em uma voz bem suave, e um fundo sonoro com vozes bem delirantes. É um estilo de música bem criativo que o Queen costumava idealizar, e é isso que faz o álbum ser especial. O solo de guitarra de Brian May também é louco. Até o baixo de John Deacon pira. Vocês já viram o videoclipe dessa música? É loucura total. Infelizmente a gente consegue reparar no clipe um Freddie Mercury bem magro e debilitado. Roger Taylor, alguns anos depois, havia comentado sobre Freddie e suas condições físicas neste clipe. Roger disse que Freddie não conseguia quase caminhar, de tanta fraqueza que se encontrava. É triste, mas Freddie se divertia mesmo assim. E mostrava o quanto estava disposto a dizer aos fãs que o show deve continuar.

”Headlong”– É uma das minhas preferidas do álbum. Esta canção faria parte do primeiro álbum solo de Brian May, escrita por ele, mas quando ele ouviu Freddie cantando ela, não pensou duas vezes e decidiu coloca-la no álbum do grupo. Brian May sempre foi um potente criador de canções do Queen, e nessa ele estava bem criativo. Engraçado, o refrão da música, com os 4 membros do grupo cantando, me lembra um rock da década de 60. Aliás, toda canção é bem estilo vintage. É um rock melódico sim, mas com muitas guitarras, baixos e baterias. O videoclipe também é estimulante, ver o quarteto em ação naquele estúdio das filmagens é de levantar qualquer um. O fã que estiver por algum motivo desanimado, é só colocar a música no ouvido que já fica bem ligado. A canção te agita facilmente. Energia incrível. É Queen!

”I Can’t Live With You” – Outra canção feita por Brian que faria parte do álbum solo dele, mas que preferiu colocar nesse álbum. É bom lembrar que mesmo que as faixas de ”Innuendo” tenha os créditos no nome ”Queen”, algumas canções podem ter sido escritas totalmente por apenas um membro do grupo, como exemplo em ”Headlong” e ”I Can’t Live With You” de Brian May. Vamos a música em pauta. Ela possui uma harmonia bem fácil, as guitarras são até nervosinhas, mas não foge de um rock n roll melódico como o Queen sempre gostou de fazer. A música se torna chiclete rapidinho, pois é fácil decorar o refrão e ele vai ficar na sua cabeça facilmente se você deixar. Ou nem precisa deixar, escute-a e comprove o que estou dizendo.

”Don’t Try So Hard” – A letra da canção diz para não se esforçar demais. Mas a melodia que o Queen criou foi o contrário dessa mensagem, pois encontramos nela uma suavidade deliciosa de se escutar. Freddie caprichou no vocal com seu falsete perfeito, e os efeitos sonoros no fundo dão à canção um toque romântico, apesar da música não apresentar uma história de amor ou coisa do tipo. Parece uma música de desabafo de Freddie, como muitas que estão no álbum. O solo de Brian é muito simples, mas é algo fenomenal. Gosto muito dessa música, pois como disse lá trás, é um álbum que junta o Queen clássico e claro, um Queen da década de 90, e essa música também possui esse ”feeling” clássico.

”Ride The Wild Wind” – Essa é uma das músicas mais envolventes também do álbum, dizendo em respeito ao ritmo. A bateria de Roger surge bem rápida, e se estende assim até o final. No fundo, sons de carros em velocidade. Essa na verdade é uma música feita unicamente por Roger Taylor que contou com a colaboração de todos posteriormente. O som é pesado, é um rock bem progressivo, hard. O Queen na verdade nunca teve um gênero que definia a banda. O Queen conseguiu em sua história criar seu próprio estilo musical misturando rock, ópera, hard, progressivo, pop e por aí vai. E é isso que os deixa estarem entre as melhores bandas de rock de todos os tempos.

”All God’s People” – Ta aí um pouquinho do que Freddie gostava. O seu gosto pela ópera com um toquinho de rock n’ roll. Não há dúvidas que essa canção é de total autoria de Freddie, é a cara dele. E ele fez grandes canções sem o Queen com esse estilo, como ”Barcelona” e ”How Can I Go On”. É uma canção que mostra a grande versatilidade que era Freddie, dono da maior voz de todos os tempos( na minha opinião).

”These Are The Days Of Our Lives” – Agora, começa a arrepiar. Pois é, quando chega uma canção como essa não tem jeito. Lembro de quando eu a escutei pela primeira vez, eu tinha 14 anos e não conseguia decifrar a emoção espontânea de ter descoberto uma música dessa interpretação, como só o Queen conseguia fazer. É por essas e outras que me orgulho da banda que sou fã. O que posso dizer? A letra é divina, cada trecho corresponde a um pedaço poético nunca feito antes por ninguém, e isso só o Queen podia fazer. Quem nunca vivenciou as frases que estão na canção? Quem nunca sentiu saudades de algo, de alguém? Esta é uma daquelas canções que devemos fechar os olhos e ir com a correnteza da canção. Freddie conseguiu, em seus últimos suspiros, emocionar tanto em uma canção romântica como fez em ”Love of My Life”. Ou até mais. O videoclipe da canção é triste, não há duvidas da grande fragilidade física e de saúde que Freddie se encontrava. E como disse Brian, o Freddie de algum modo realmente pôde se despedir neste vídeo dizendo no final da canção ”I still love you”. Mesmo que a canção tenha servido como uma luva a Freddie e sua situação na época, a composição real é de Roger em homenagem a seu pai. Emocionante canção. Pra não ficar um fã chato, resumo tudo o que disse em uma palavra: perfeição!

”Delilah” – Quer saber? Delilah não empolga mesmo e não merece o álbum ”Innuendo”. Se você curte ou possui uma Delilah em casa, perdão. Vamos lá, para quem não sabe Delilah era o nome de uma gata de Freddie Mercury. Como um dos seus ”últimos pedidos” e querendo homenagear sua querida gatinha, ele compôs unicamente essa canção. Roger Taylor ficou pirado quando soube que realmente a música faria parte do álbum. Mas Freddie insistiu, insistiu, e não tinha jeito. O ritmo é bem simples, com direito a ‘miaus’ no fundo da canção. Mas foi uma boa tática para a música que virá depois..

”The Hitman” – Aí sim. Da calminha ”Delilah” à poderosa e nervosa ” Hitman”, que surpreende desde o inicio com a voz turbinada de Freddie, alcançando um timbre poderosíssimo. É um hard rock pra ninguém colocar defeito. Essa é uma música que também me leva ao Queen clássico. Foi um excelente trabalho de Brian May, que idealizou a canção e contou com o resto do grupo para finaliza-la. É tão envolvente quanto ”Headlong”. E um rock desses nos anos 90 foi pra colocar moral em qualquer um. Aprovadíssimo!

”Bijou” – Se você se arrepiou em ”These Are The Days Of Our Lives”, você vai se arrepiar também nessa canção. Eu a ouvi pela primeira vez ao vivo, no show do Queen + Paul Rodgers em 2008. Lembro-me de Brian May conduzindo a canção com suas guitarras. Eu, na época, pensava ser apenas mais um solo de Brian, como ”Last Horizon”, pois eu ainda não tinha escutado ”Bijou”. Pois bem, eis que surge no meio da canção Freddie Mercury em um telão com sua voz arrepiante. Foi impossível não se arrepiar. A canção transmite isso. Essa emoção de poder viajar ao som da guitarra de Brian May ao encontro da voz de Freddie, em um refrão poético, lindo, que repito, só o Queen consegue fazer. Não tem pra ninguém.

”The Show Must Go On” – Prepare-se. Agora, chegou o grande momento. Sim, se você não se arrepiou até agora, game-over. Neste momento, você está prestes a ouvir um dos maiores hinos do Queen. Uma música de uma imensidão de sentimentos. Se você já escutou e sabe do que estou falando, você há de concordar comigo. Não é fácil sentir essa música? Não tem jeito, o Queen neste álbum conseguiu reunir todos seus melhores elementos que o fizeram ser uma das melhores bandas de rock do mundo. Sim, os acontecimentos com Freddie Mercury contribuíram de certa forma para um grande produto que foi o álbum. Em especial a esta canção, Freddie sugeriu que eles escrevessem uma música narrando sua luta contra a doença. Brian tomou papel e caneta e fez. Mas, a saúde de Freddie se encontrava de mal a pior e Brian já não contava mais com a gravação de Freddie para a canção. Mas Freddie não aceitara sua condição, e disse que faria a gravação de qualquer maneira. E fez. Se você ouvir a canção, nem parece que ele estava totalmente esgotado, tamanho é o poder de voz que existe lá. A letra retrata tudo que Freddie passava. E é impossível, realmente impossível observar e não se surpreender com cada trecho da canção. É lindo demais. É Queen. Essa canção pra mim está um nível absoluto que poucas canções conseguem chegar. É só colocar o fone de ouvido e receber essa transmissão de palavras de esperança, de luta, de não desistir nunca. Obrigado Freddie. Obrigado Brian. Obrigado Roger. Obrigado John. O show deve continuar.

1. “Innuendo”
2. “I’m Going Slightly Mad”
3. “Headlong”
4. “I Can’t Live with You”
5. “Don’t Try So Hard”
6. “Ride the Wild Wind”
7. “All God’s People”
8. “These Are the Days of Our Lives”
9. “Delilah”
10. “The Hitman”
11. “Bijou”
12. “The Show Must Go On”

Gravadora: Hollywood Records
Produção: Queen e David Richards

 

Fonte: http://whiplash.net
Dica de: Roberto Mercury

Alexandre Portela

Fã do Queen desde 1991. Amante, fascinado pela banda e seus integrantes. Principalmente Freddie! =)

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