Por: Andre Barcinski – http://andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br
A música pop dos anos 80 é sempre lembrada como uma caricatura: cabelos engraçados, canções ruins e roupas esquisitas de cores berrantes.
Mas duas autobiografias lançadas recentemente mostram um lado mais sombrio do pop oitentista. A primeira é “Le Freak”, de Nile Rodgers, livro espetacular que já citei no blog (leia matéria aqui). A segunda é “In The Pleasure Groove – Love, Death & Duran Duran”, de John Taylor.
Filho único e mimado de uma família classe média de Birmingham, o baixista fundou o Duran Duran em 1978/79, inspirado pela elegância do Roxy Music e pelos grooves do Chic.
Desde o início, a banda sabia o caminho do sucesso. Em vez de penar por anos em clubinhos vagabundos, investiu em roupas caras, criou um visual moderno e um som limpo e dançante, na contramão do punk. Um ano depois do primeiro show, já tinha muitos fãs e um contrato com a EMI.
O Duran Duran foi dos primeiros grupos a perceber o potencial da MTV – inaugurada em 1981 – e tratou de investir em videoclipes caros e sofisticados para a época, muitos dirigidos pelo australiano Russell Mulcahy, que depois ficaria famoso pelo filme “Highlander”.
“Videoclipes, para nós, eram tão importantes quanto o estéreo era para o Pink Floyd”, disse o tecladista Nick Rhodes.
O grupo surgiu numa época de mudanças na indústria musical. Em 1979, as gravadoras sofriam com uma grande queda de vendas, causada pela decadência da discoteca e pela segunda crise do petróleo, que encareceu a matéria-prima para fabricação de vinis.
Gravadoras começaram a enxugar seus “casts”, mantendo só artistas com grande potencial de vendas. Foi o início da “Era Michael Jackson” – contratos milionários, investimentos maciços em publicidade e orçamentos ilimitados para videoclipes, discos e turnês. Foi aí que Madonna, Elton John, Bruce Springsteen, Prince, George Michael e outros viraram superastros. Além do Duran Duran, claro.
Foi também uma época de drogas em excesso – especialmente cocaína – e de fãs em histeria beatlemaníaca, amplificada pelo sucesso da MTV e pela superexposição dos astros. O próprio Taylor foi um dos maiores ídolos “teen” dos anos 80. “Logo descobri uma coisa incrível: meninas de todos os idiomas adoravam tomar drogas comigo!”, escreve o músico.
Taylor vivia uma espiral ininterrupta de cocaína, álcool e festas. Toda manhã, o “tour manager” do Duran Duran mandava colocar debaixo da porta do baixista um aviso com informações sobre o que ocorria no mundo real: “HOJE É SEXTA-FEIRA. VOCÊ ESTÁ EM CHICAGO. HOJE À NOITE TEM SHOW. PASSAGEM DE SOM ÀS 4 DA TARDE.”
O livro é muito engraçado. Não sei se foi o próprio Taylor que escreveu ou se teve ajuda de alguém, mas algumas passagens são hilariantes. Numa das melhores, Taylor descreve uma entrevista para a TV em que chegou ao estúdio chapado depois de uma noite farreando com Freddie Mercury e conseguiu insultar toda a população de Birmingham. Para piorar, ainda levou um pito de Bryan Adams no camarim: “John, tem certeza que você está bem?”
Em outro trecho, o baixista dá uma espinafrada em Sting, narrando um show do Police em 1978, abrindo para o Heartbreakers, grupo de Johnny Thunders, ídolo de Taylor.
Sting: Daqui a pouco teremos aqui no palco o Heartbreakers!
Taylor (na platéia): Yeah!!
Sting: Eles não sabem tocar, vocês sabem, né?
Taylor: Vai se f…, seu babaca!
Sting: É verdade. Eles são caras legais, mas não tocam p… nenhuma!
Mesmo que você não seja fã do Duran Duran, vale a pena ler o livro para entender as engrenagens que moveram o pop dos anos 80, época em que a indústria da música fincou os pés, definitivamente, no “material world”.
Fonte: http://andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br
Dica de: Roberto Mercury