Por Diego Marques
Não é mais necessário explicar a importância do Queen para a história do rock. Afinal, foi a primeira banda do mundo a tocar em estádios de futebol, tamanho o público que ia assistir as apresentações históricas de Freddie, Brian, Roger e John. Hoje, já sem o icônico vocalista Freddie Mercury (que morreu em 1991, vítima de AIDS) e sem o baixista John Deacon, que decidiu não continuar com o Queen, o grupo se une a outra grande voz, Paul Rodgers, para trazer de volta o bom e velho Rock ’n’ Roll que parecia estar morto desde o fim dos anos 80.
Quem é fã casual do Queen, e só conhece os grandes sucessos do quarteto, pode até estranhar um pouco a junção Queen + Paul Rodgers. O ex-líder do Free e do Bad Company, com passagem pelo super grupo The Firm (formado por Paul Rodgers, Jimmy Page, Tony Franklin e Chris Slade) não lembra Freddie nem de longe. E isso é de propósito, afinal, como o próprio Paul disse, Freddie é insubstituível e incomparável.
Já os fãs mais antigos do Queen, que acompanham a banda desde os anos 70, se sentiram orgulhosos ao verem que Brian May e Roger Taylor continuam com exatamente a mesma disposição e vigor para tocar puro e simples rock, como na execução perfeita de “Tie Your Mother Down” na abertura do show, que aconteceu no último dia 29, no Rio de Janeiro, encerrando a passagem do conjunto pelo Brasil.
Aliás, uma abertura de tirar o fôlego! Um telão enorme (sem redundâncias) com um estilo “pixelado” começou o espetáculo com o tema da turnê, de nome “The Cosmos Rocks Tour”. Na tela, uma chuva de estrelas e uma viagem pelo cosmo anunciavam a entrada dos roqueiros, e uma voz que dizia as palavras iniciais da música “Cosmos Rockin’” foi seguida pelos gritos descontrolados da platéia (voz essa que, por sinal, lembra o início da música “One Vision”, do disco de 1986 “A Kind Of Magic”). Apesar de não ter lotado do HSBC Arena (ainda assim o local estava relativamente cheio), o público fez barulho por todos os fãs que não puderam estar presentes.
A qualidade técnica do show é indiscutível. O som estava muito bem balanceado e, mesmo ao lado das caixas de som, era possível escutar com clareza todas as nuances de cada música. O palco foi estendido com uma passarela que chegava muito perto da área vip do HSBC Arena, para delírio de quem estava a menos de três passos dos ídolos de longa data. Aliás, nem tão longa data para alguns presentes, já que uma coisa que se via com freqüência eram adultos acompanhados de seus filhos já doutrinados nas músicas da Rainha.
O repertório de quase três horas de show foi sabiamente escolhido para não deixar a energia se dissipar entre as músicas mais agitadas e as baladas. Dá para perceber uma clara preferência por músicas mais pesadas do Queen, como “Hammer to Fall”. Paul faz mais o estilo “roqueiro clássico”, e as músicas mais teatrais e alegres do Queen poderiam ficar um tanto quanto perdidas na voz rouca (e potente!) de Rodgers. Falando nisso, uma coisa que impressiona no novo vocalista é a fidelidade com as músicas de estúdio. Praticamente não há diferença entre o que se escuta no CD “The Cosmos Rocks” e na apresentação ao vivo.
Lá pela metade do espetáculo, Brian May se dirige ao fim da passarela, bem perto do público, para executar a primeira homenagem à Freddie Mercury. Apenas com um violão, Brian convida o público a cantar “Love Of My Life”. Lembrando o grande coro que acompanhou a banda no primeiro Rock In Rio, em 1985, a voz de Brian foi rapidamente abafada pela platéia. Por duas vezes o guitarrista quase perdeu o rumo da música de tão impressionado com a resposta das pessoas. No final, a emoção vinda da lembrança de Freddie era visível pelas lágrimas, tanto de Brian quanto do público.
A platéia participou muito bem do show. Praticamente todas as músicas soavam em uníssono. Taylor e May se surpreenderam ao ouvirem o público cantando a não tão conhecida (mas mesmo assim excelente) “‘39”, do disco “A Night At The Opera”. Em seguida vem o solo de bateria de Roger Taylor. De forma original, Taylor, que só tinha o bumbo e um chimbal, começou batucando no corpo do bumbo, enquanto os assistentes montavam o restante da bateria. O baixista Danny Miranda acompanhou Taylor com um baixo vertical elétrico, tocado pelas baquetas do baterista. Com tudo montado, Taylor cantou “I’m In Love With My Car” e “A Kind Of Magic”.
A carreira anterior de Paul Rodgers foi lembrada com as músicas “Seagull” (apenas voz e violão) e “Feels Like Making Love”, ambas do Bad Company. Paul teve uma feliz surpresa quando percebeu que o público cantava alto a música “All Right Now”, do Free. Outra surpresa foi a tentativa de invasão do palco feita por um corajoso da plateia, que foi prontamente jogado para fora do palco por uns quatro seguranças, literalmente.
Um dos momentos mais memoráveis do show e que deixou a banda claramente emocionada foram as palmas sincronizadas em “Radio Ga Ga”. A histeria da platéia foi tamanha ao soar das primeiras notas da música que até Brian May estranhou. Arrepiante.
A segunda homenagem à Mercury veio no final do solo de Brian May, com uma referência à música “Bijou”. Freddie aparece no telão ao fim da música, por poucos segundos. Apenas um aquecimento para a esperadíssima “Bohemian Rhapsody”, um dos hinos do Queen. Os músicos acompanhavam a imagem e voz de Freddie Mercury no telão enquanto o público cantava cada palavra da música. Na terceira parte da canção, mais operística, imagens da carreira da banda eram mostradas. O final ficou por conta de uma estrofe cantada por Paul Rodgers e um rápido dueto entre Rodgers e Freddie.
O bis do show ficou com “We Will Rock You”, que ressoou com tremor no piso do HSBC arena; “We Are The Champions”, que dispensa comentários e “Cosmos Rockin’”, música título do disco novo que agradou muito os presentes.
Com certeza essa reunião do Queen, apesar de um pouco polêmica, traz energia para os velhos fãs. Obviamente o show não foi tão grandioso quanto as gigantescas apresentações que a o quarteto costumava fazer em estádios, mas com certeza vai ficar marcado como um dos melhores shows na vida dos fãs mais novos do Queen – aqueles que não tiveram a oportunidade de ver Freddie Mercury ao vivo, mas ainda sim veneram Brian May e Roger Taylor por terem a coragem de seguir as últimas palavras de Freddie e continuar o show.
Veja fotos da apresentação da banda.
http://www.flickr.com/photos/cifraclub/sets/72157610521229721/show/
http://cifraclub.terra.com.br/noticias/shows/swj-queen.html