Em cartaz há 11 anos, em Londres, o musical “We Will Rock You” faz tributo à altura do legado deixado pelo grupo britânico. A coluna Sound conferiu
Assim como a Broadway está para Nova York, Londres também é tradicionalmente conhecida pela cena efervescente de musicais, verdadeiras superproduções. Mesmo para quem não é chegado no gênero, estar na capital inglesa e não assistir a pelo menos um espetáculo parece até uma heresia. A infinidade de opções impressiona e há montagens para todos os gostos, das que revisitam clássicos como “O Fantasma da Ópera”, passando por adaptações contemporâneas (“Mama Mia!” , “O Rei Leão”, “Billy Elliot”) até as que homenageiam a música propriamente dita como “Let It Be” e “We Will Rock You”.
Baseado nos maiores sucessos do Queen, “We Will Rock You” é o espetáculo que está há mais tempo em cartaz no teatro Dominion, em Londres
Após indicações (e ouvir muitos elogios), resolvi conferir o premiado espetáculo que reverencia a obra do lendário Queen, encenado já em várias partes do mundo e em cartaz desde 2002, de segunda a sábado (faça chuva ou faça sol!). O impacto já começa ao adentrar no Teatro Dominion. Uma estátua dourada e ostentosa do ícone Freddie Mercury dá as boas-vindas aos fãs.
Concebido pelo guitarrista Brian May e pelo roteirista Ben Elton, o musical, antes de ser um culto à música do Queen, é uma bela homenagem ao rock. Aliás, a produção trata justamente da “morte” do estilo, de como pode ser depressiva a vida sem esse ritmo.
O cenário de “We Will Rock You” se passa em um futuro meio pós-apocalíptico, invadido pelas máquinas, com câmeras para tudo que é lado, onde a conduta e qualquer passo dado por um cidadão é vigiado por um regime totalitário – uma referência ao “Big Brother” profetizado pelo escritor inglês George Orwell no livro “1984”. Esse lugar, que há muito tempo se chamou Terra, transformou-se no entediante e metódico Gaga World (ou Mundo Gaga), embora os mafiosos defendam e enfiem goela abaixo a mensagem de “lugar feliz e seguro”.
Disciplina militar
Lá, as pessoas assistem os mesmos filmes, vestem o mesmo tipo de roupa, pensam do mesmo jeito e até fazem os mesmos downloads de música. Tudo é padronizado e ai de quem não se enquadrar nas regras do sistema. Se você busca o rock, a situação pode ficar tensa. Instrumentos musicais foram banidos há centenas de anos. O que reina por lá é o autotune, é a música pasteurizada das boy e girl bands.
Os protagonistas Galileo e Scaramouche se juntam aos rebeldes “bohemians”, artistas menosprezados da Gaga Life
Mas tanta repressão acaba estimulando a “Resistência”. Os “Bohemians” são os rebeldes que acreditam que houve uma Idade de Ouro da música, quando era possível formar seus grupos e ter a liberdade de escrever suas próprias canções. Eles chamam esse tempo de Rhapsody.
Mas o preço a pagar por ser “bohemian” pode ser alto. Quando descobertos pelos Ga Ga Cops, policiais da Killer Queen (papel da atriz Brenda Edwards), a grande vilã da história, essas pessoas, consideradas loucas, geralmente vão parar em um manicômio, onde é feita uma espécie de lavagem cerebral e os tais pensamentos “artísticos” são totalmente deletados.
Salvador ou sonhador?
Esse é o caso de Galileo Figaro (interpretado pelo talentoso Oliver Tompsett), um jovem que anseia exprimir sua arte, mas não sabe como. Ele nunca viu um instrumento, não tem ideia do que seja o rock, no entanto, ouve vozes e canções na sua cabeça.
Assim como ele, Scaramouche (Rachael Wooding) é uma garota punk, que também tem dificuldades em se ajustar nessa sociedade fabricada. Por causa desse comportamento de “bad boys”, os dois são perseguidos, chegam a ser torturados, mas conseguem escapar e se juntar aos tais bohemians. Só que antes de ser aceito e proclamado líder do bando, o rapaz será visto com desconfiança pelos rebeldes do bem. Afinal, seria ele um “sonhador”, o herói que esperavam, ou um espião infiltrado dos Ga Ga Cops?
Previsível
Daí, a trama passa a girar em torno do romance açucarado do casal birrento e da busca do mocinho pela tal guitarra elétrica, que “salvará”, ou melhor, ressuscitará o rock das trevas. Tudo bem, contando assim a sinopse parece rasa – um tanto bobinha- e previsível. A sensação é realmente de déja-vu. Contudo, a história ganha charme e vida com a produção caprichada, os efeitos especiais, as coreografias e, claro, a música. Todas as canções de “We Will Rock You” são interpretadas pelo elenco e executadas ao vivo por uma banda que fica ao fundo. E não, infelizmente, o Brian May não estava lá!
Killer Queen é a grande vilã da história futurista
O destaque fica por conta do vozeirão da diva Killer Queen, que consegue imprimir intensidade e emoção com as quais Freddie Mercury imortalizou os sucessos do Queen. O galã também se sai bem na missão de “salvador” do rock (sem soar piegas). Carismático e enérgico, Oliver Tompsett canta e dança praticamente todo o show.
Difícil (e irresistível) não cantar junto hits como “Under Pressure”, “Radio Gaga”, “I Want to Break Free”, “Play the Game”, “A kind of magic”, “I Wanna It All”, “Crazy Little Thing Called Love”, “Another One Bites The Dust” e, obviamente, “We Will Rock You” (para citar algumas). Entretanto, é a opereta “Bohemian Rhapsody” inegavelmente a cereja do bolo, arrancando aplausos calorosos.
O afiado humor britânico também dá as caras. Não faltam alfinetadas as boy bands a artistas como Justin Bieber e tiradas de duplo sentido, que dão leveza e descontração ao musical. Importante destacar é que outros grupos e artistas, além do Queen, são lembrados por sua contribuição à música, incluindo o pop. Rolling Stones, Jimi Hendrix, Beatles, David Bowie, Billie Holiday, Sex Pistols, Clash, The Who, Nirvana, entre tantos outros.
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com
Dica de: Roberto Mercury