O show realizado em memória ao então recentemente falecido Freddie Mercury – o chamado “Freddie Mercury Tribute Concert” – foi um dos eventos mais bonitos da história da música. A apresentação ocorreu ao longo de todo o dia 20 de abril de 1992, no estádio de Wembley, em Londres, na Inglaterra.
Freddie Mercury havia falecido cerca de cinco meses antes, mais exatamente no dia 24 de novembro de 1991. Ele se foi devido a uma broncopneumonia causada pela Aids. Por isso, os demais músicos do Queen optaram por fazer a homenagem a Mercury.
O intuito era filantrópico: os lucros do evento foram revertidos à Mercury Phoenix Trust, associação criada para combater a Aids. A organização ainda existe e é gerida pelos remanescentes da banda – o guitarrista Brian May, o baterista Roger Taylor e o baixista John Deacon – e o empresário Jim Beach, que cuidou da carreira do grupo.
Além dos integrantes remanescentes do Queen, dezenas de convidados próximos aos músicos da banda e de Freddie Mercury estiveram presentes no evento. Artistas do rock e do pop, cascudos e revelações, marcam presença, como Def Leppard, Robert Plant, Tony Iommi, Guns N’ Roses, George Michael, David Bowie, Seal e outros. Até o U2, que fez uma performance ao vivo à distância, via satélite, diretamente de Sacramento (Estados Unidos), deixou a sua contribuição.
Com tantos monstros reunidos em um mesmo local, ninguém apostaria que uma banda até então considerada “revelação” seria um dos grandes destaques do evento. Mas foi o que aconteceu: o Extreme se apresentou para as mais de 72 mil pessoas presentes e, ainda hoje, a performance do grupo é lembrada como uma das mais afiadas daquele dia.
É verdade que o Extreme não era formado por novatos. A média de idade dos integrantes girava em torno dos 30 anos e a banda existia desde meados de 1985. Até então, dois álbuns haviam sido lançados – o debut autointitulado, em 1989, e “Extreme II: Pornograffitti”, em 1991.
As vendas do debut foram modestas, enquanto “Pornograffitti” catapulou o quarteto de Boston (Estados Unidos) para o sucesso mundial, especialmente, graças ao hit “More Than Words”. Outras músicas, como “Decadence Dance”, “Get The Funk Out” e “Hole Hearted”, também tiveram êxito nas paradas, mas é pela famosa canção acústica, guiada somente por violão e voz, que a banda ainda é lembrada pelo público geral.
Naquela época, já existia a mentalidade de que o Extreme era uma banda “de um hit só”. Não se esperava tanto da apresentação do quarteto, tanto que o grupo foi o segundo a se apresentar – logo depois do Metallica, que abriu o evento com três músicas de seu disco mais recente, o multiplatinado “Black Album”.
Em uma performance impressionante, o Extreme fez valer o nome do evento e prestou uma homenagem a Freddie Mercury e ao Queen. Nenhuma música de seu repertório autoral foi tocada, mas, sim, um medley de 13 minutos de duração com 10 músicas da banda britânica.
Qualquer semelhança com a performance do Queen no Live Aid, em 1985, naquele mesmo estádio – e também baseada em um pot-pourri – não é mera coincidência. Veja o repertório do medley tocado pelo Extreme:
– “Mustapha”
– “Bohemian Rhapsody”
– “Keep Yourself Alive”
– “I Want To Break Free”
– “Fat Bottomed Girls”
– “Bicycle Race”
– “Another One Bites The Dust”
– “We Will Rock You”
– “Stone Cold Crazy”
– “Radio Ga Ga”
– “Bohemian Rhapsody” (reprise)
Parecia um ato arriscado por parte do Extreme. Uma banda considerada “revelação” prestar-se a fazer uma apresentação deste tipo?
Mas as dúvidas caem por terra logo após os primeiros acordes do show. Não à toa, Brian May apresentou-os como: “possivelmente, mais do que qualquer outra banda no planeta, (são) as pessoas que entenderam perfeitamente o que foi o Queen ao longo de todos esses anos, bem como o que Freddie foi ao longo desses anos”.
Ao longo da performance, nota-se a influência que o Queen exerceu na sonoridade e na musicalidade do Extreme. Os vocais em coro, o entrosamento, a cozinha seca, a guitarra levemente exibicionista, a voz potente em uma interpretação expansiva… tudo muito bem amarrado. Guardadas as devidas proporções, eram como os sucessores do quarteto britânico.
Depois do medley arrepiante, ainda sobrou tempo para que o vocalista Gary Cherone e o guitarrista Nuno Bettencourt fizessem uma boa performance de “Love Of My Life”, do Queen, aliada ao hit próprio, “More Than Words”. Visualizar todo o estádio cantando ambas as músicas na filmagem abaixo é um momento sublime.
Os artistas que se apresentaram na sequência – Def Leppard, Bob Geldof, Spinal Tap (!), U2 e Guns N’ Roses – apenas tocaram músicas próprias ou regravações já lançadas por eles anteriormente. Nenhuma homenagem ao Queen.
Só depois, o Queen subiu ao palco com diversos convidados e apresentou um repertório de pouco mais de 20 músicas. Daí em diante, foram só os clássicos do quarteto britânico.
Gary Cherone chegou a subir ao palco novamente, para uma interpretação de “Hammer To Fall” com o Queen e com Tony Iommi, amigão de Brian May. Também uma boa performance.
odo o “Freddie Mercury Tribute Concert” é incrível. Cada momento da apresentação mereceria um texto a parte. No entanto, ninguém surpreendeu mais naquele dia do que o Extreme.
Minha afirmação a seguir é arriscada, mas esta apresentação foi, provavelmente, o último ato gigantesco por parte do Extreme. Em setembro daquele ano, a banda lançou o bom “III Sides To Every Story”, mas o retorno não foi o mesmo de “Pornograffitti”.
O alternativo “Waiting For The Punchline” saiu em 1995 e foi um fiasco em vendas. A banda acabou no ano seguinte e Gary Cherone teve uma passagem abaixo da média pelo Van Halen. A reunião aconteceu em 2007, mas, desde então, só na base do revival: apenas um disco, intitulado “Saudades de Rock”, foi lançado, no ano de 2008.
Fonte: http://whiplash.net