O longa Bohemian Rhapsody (2018) é um dos maiores feitos dramáticos e tecnológicos da história. A trama captura quase todos os elementos que tornaram a banda Queen o fenômeno único que ela é, enquanto a proeza tecnológica permitiu que os fãs vivessem pela primeira vez ou revivessem alguns dos maiores momentos da trajetória da banda britânica.
O vocalista Freddie Mercury foi interpretado de forma magistral por Rami Malek, mas recriar a potência e amplitude da sua voz seria uma tarefa impossível para qualquer ator ou cantor. Para solucionar essa questão, os produtores misturaram várias faixas vocais de diferentes vocalistas.
Ao mesmo tempo, seria muito custoso replicar o número exato de um público de estádio com o número real de extras necessário. Para compensar isso e recriar a sensação de estar no meio de uma multidão real, os produtos utilizaram uma inovadora técnica de varredura que replicou digitalmente cerca de cem extras em 360° para que eles parecessem dezenas de milhares.
É possível afirmar que a realidade virtual (RV) é uma das principais tecnologias do futuro do entretenimento, mas, mesmo que de maneira imperceptível, ela já está sendo utilizada em diversos filmes e seu uso em Bohemian Rhapsody é um dos melhores exemplos recentes.
Uso impressionante da Realidade Virtual
O estádio de Wembley foi construído em 1922 e ficou famoso ao redor do mundo tanto pelas suas partidas de futebol quanto pelos seus shows icônicos. Um dos principais foi o do Queen para o Live Aid em 1985, show lendário que mudou para sempre a história do rock e é o grande clímax dramático do longa.
Além da já mencionada questão do grande número de extras, havia outro problema para recriar a famosa apresentação. O estádio de Wembley original havia sido demolido em 2003 e não havia como filmar no local. Mesmo com o cenário real fora de questão, o intuito de prestar uma homenagem adequada permanecia e a equipe de produção se esforçou ao máximo para reproduzir a experiência da melhor forma possível.
Para conseguir fazer isso, o desenhista de produção do filme, Aaron Haye, rapidamente começou a supervisionar a construção de uma réplica baseada no estádio original de Wembley.
Enquanto a construção de uma réplica do estádio era a solução ideal para filmar a cena em si, a equipe de produção se viu diante de outro dilema.
Para capturar a mesma sensação do show, a sequência de filmagem deveria ser perfeita e envolveria uma estratégia de câmera muito complexa que só seria possível se o diretor de fotografia, Newton Sigel, tivesse suficiente para planejá-la da forma certa.
Como seria impossível fazer isso da forma correta enquanto a réplica do palco ainda estava em construção, a equipe do longa se valeu da sua empresa de efeitos visuais, a britânica Double Negative (DNEG), para encontrar uma solução baseada em realidade virtual.
Equipada com renderizações em 3D de como ficaria a versão final da réplica, a DNEG criou renderizações esféricas modeladas a partir do conjunto. Renderizações esféricas são panoramas virtuais de 360° que permitem ao espectador explorar o espaço de forma livre sem ficar restrito a ângulos de câmera limitados.
Com a ajuda dessa impressionante tecnologia de realidade virtual, Sigel foi capaz de explorar o espaço enquanto segurava uma câmera, filmando-o em qualquer direção para estudar a posição e os ângulos de filmagem sem depender da maquete que ainda estava sendo construída.
Quando finalmente ficou pronta, o diretor já estava com um plano cinematográfico detalhado em mãos, que economizaram muito tempo de produção e permitiram que a sequência fosse filmada de uma forma muito mais rápida e com mais precisão que o normal.
O longa foi um dos mais premiados do Oscar e o resultado de todo esse esforço épico por parte da equipe de produção e do elenco do filme não ficou nada menos que impressionante.
A melhor forma de experimentar esse espetáculo é assistir ao longa inteiro, mas para ter um gosto da experiência final e ver o nível de sucesso impressionante que a equipe alcançou, basta apenas assistir à comparação lado a lado do hino “We Will Rock You”.
Créditos do artigo: Luara Lua Pereira de Marinis; Max Pires.