Braulio Lorentz, Jornal do Brasil
RIO – As músicas são do Queen (Bohemian rhapsody, Crazy little thing called love, We will rock you, We are the champions) e metade da banda está no palco: o baterista Roger Taylor e o guitarrista Brian May.
Junto ao vocalista Paul Rodgers, ex-líder do Bad Company, eles tocam no Rio no dia 29, na HSBC Arena, na Barra da Tijuca, na primeira chance desde 1985 – quando estiveram no Rock In Rio – que os cariocas terão de cantar ao vivo sucessos consagrados na voz de Freddie Mercury.
Os membros remanescentes do grupo, que lançam o álbum The cosmos rocks(2008), não se vêem na obrigação de legitimar a convocação de Rodgers, mas trazem uma justificativa irrefutável a tiracolo:
– Além de ser um dos melhores, ele era um dos preferidos do Freddie. Paul tem soul e blues na performance. Os dois não têm muito a ver, é um tipo diferente de cantor – compara Taylor, em entrevista por telefone ao Jornal do Brasil, de um hotel no Chile.
Ele parece animado com o início da turnê pela América do Sul, que inclui data em Buenos Aires; e apresentações nos dias 26 e 27 no Via Funchal, em São Paulo.
O primeiro disco de estúdio com o nome Queen desde 1995 (as faixas são creditadas ao combo Queen + Paul Rodgers) é a estréia sem Mercury, morto em 1991, por complicações de saúde decorrentes da Aids.
Com o repertório novo de canções compostas pelo trio, mas blindado por hinos, o grupo fez o primeiro giro europeu em 2005 e terminou recentemente mais um. A primeira turnê européia ganhou o registro em DVD, intitulado Return of the champions.
Sem chance de Killer Queen
– Tocamos canções diferentes todas as noites. O show em Wembley durou duas horas e meia, foi um espetáculo – conta o baterista, referindo-se ao concerto na arena londrina no começo do mês, que encerrou a turnê pela Europa.
– A apresentação tem diferentes climas. Brian e eu estamos nos dando muito bem. Redescobrimos como é tocar juntos. É um show à moda antiga, tudo o que você ouve é real. Gosto do som mais orgânico.
O vocal de Rodgers não é a única novidade nos arranjos das músicas retiradas dos 16 discos do Queen, que, somados a coletâneas e registros ao vivo, venderam perto de 300 milhões de cópias pelo mundo. Mas ser um sucesso não é o único pré-requisito para uma canção cavar uma vaga no repertório:
– As músicas com pegada mais rock ‘n’ roll funcionam melhor com o estilo do Paul, que é mais melancólico – justifica.
– É uma questão técnica. Trata-se de uma música que não cabe na voz dele. Killer Queen é um dos casos e é uma das que não tocamos. Ela tem muito a ver com o Freddie. Mas há espaço para quase todos os sucessos.
Sobre a última passagem pelo Brasil, o músico garante que está “gravada na memória”, mesmo que tenha sido há 23 anos:
– Lembro-me do show em São Paulo, no Morumbi. Não sabíamos o que esperar e foi realmente incrível. O que me impressiona mesmo é todos saberem as letras em inglês. E teve o Rock in Rio, aquela platéia enorme nos fez sentir muito bem.
Não foi apenas com a obrigação de pontuar com baquetadas os gritos de We will we will rock you que Taylor esteve por aqui.
– Fui ao Brasil recentemente, há uns cinco anos, de férias. Fiquei alegre, porque o país mudou muito. Ele está mais organizado e modernizado – opina o músico.
Das novas faixas compostas por ele, May e Rodgers em 2007 e no início de 2008, a mais comentada é Say it’s not true, que saiu em single com os lucros destinados a pesquisas contra a Aids, em uma campanha internacional comandada por Nelson Mandela.
– Não só angariamos fundos, também há uma mensagem. É nossa parte nessa luta. É como cantar “tenham cuidado” – explica.
“As bandas de hoje tocam mal”
Sem querer citar nomes, alfineta a nova geração do pop rock e ressalta a importância de uma delas, que em nada lembra o som poderoso e clássico do grupo.
– As bandas atuais têm até algumas boas canções, mas tocam muito mal – lamenta.
– Uma das que fogem disso é o Sigur Rós. Eles são islandeses, conhece? Cantam e tocam maravilhosamente bem. E as canções são densas.
http://jbonline.terra.com.br/extra/2008/11/18/e181125145.html