Cantor ainda é referência para várias idades e classes sociais
Dolores Mendes
O ano era 1985. No palco do Rock in Rio, Freddie Mercury começava a cantar “Love of my Life”. O público cantou mais alto. Ele se calou e deixou que milhares de brasileiros gritassem um inglês quase perfeito da música mais comercial do Queen. No final, o vocalista elogiou: “Beautiful”.
Freddie Mercury morreu no dia 24 de novembro de 1991, um dia depois de ter anunciado que estava com aids. Sua casa, que foi passada por testamento à sua ex-namorada Mary Austin, recebeu muitos buquês de flores na época e continua a receber até hoje.
A morte do cantor foi uma perda para fãs do mundo inteiro e sua voz continua sendo ouvida por gente de várias idades e classes sociais.
O professor Winston Bacelar, 42 anos, mantém os discos em vinil e, de tanto ouvi-los, contagiou toda a família. “Sempre gostei das novidades que o grupo implementava, das junções rock e música clássica, continuo ouvindo vinil até hoje”, afirmou.
Os filhos de Winston aprenderam a gostar de Freddie Mercury e cantam “Bycicle Race” com facilidade. “De tanto ouvir as músicas do Queen, eles aprenderam e gostam muito”, disse o professor, fã desde 1984.
O cartunista Maurício Ricardo Quirino não só ouve como também canta. A banda da qual faz parte, Octopus, faz cover do Queen e o resultado é sempre surpreendente.
“As pessoas gostam tanto do Queen, que, quando anunciamos um cover no London, não colocamos menos de mil pessoas lá dentro”, afirmou Maurício Ricardo. Ele se apaixonou pelo rock da banda inglesa em 1975, quando a música era mais pesada, mais guitarra, depois o Queen deu uma amenizada no ritmo, mas não perdeu os fãs.
Maurício Ricardo tinha 17 anos quando saiu de Uberlândia para ver o primeiro show de rock no Morumbi, em São Paulo. “Foi um megaespetáculo e eu tive a oportunidade de ver a performance tão falada do Freddie Mercury ao vivo, foi emocionante”, afirmou.
Vocalista criou geração sem preconceitos
Quando começaram a circular pelo mundo as piadinhas de que o visual “macho” de Freddie Mercury não passava de uma máscara para um homem bastante afeminado, os fãs masculinos do cantor começaram a ser chamados de simpatizantes de gay.
Poucos se importaram com isso e, com o tempo, a bissexualidade de Freddie foi ofuscada pelo talento com a música. “Nós que sempre fomos apaixonados pelo rock do Queen acabamos nos livrando da homofobia, a banda deixou uma legião de fãs heterossexuais que não se importam com a opção sexual de Freddie Mercury, porque eles eram muito bons e se impuseram pela arte”, disse o chargista Maurício Ricardo.
Ele lembra que, como Freddie, também os cantores brasileiros Renato Russo e Cazuza morreram com aids e, embora tenha significado uma grande perda para o mundo do rock, contribuíram com a disseminação de uma cultura menos preconceituosa, sem homofobia e de puro amor ao rock.
Freddie Mercury era bissexual, nasceu na Tanzânia. Depois de se formar em sua terra natal, mudou-se com a família em 1964 para a Inglaterra.
Ele tinha 18 anos e formou-se em Design Gráfico e Artístico na Ealing Art College. Freddie era aluno exemplar e muito quieto. Tinha uma personalidade bastante introspectiva. Concluiu os exames finais do curso com conceito A.
Na faculdade, ele conheceu o baixista Tim Staffell. Tim tinha uma banda na faculdade chamada Smile — Brian May como guitarrista e Roger Taylor como baterista —, e levou Freddie para participar dos ensaios.
Em abril de 1970, Tim deixa o grupo e Freddie acaba ficando como vocalista da banda, que passa a se chamar Queen. Freddie decide mudar o seu nome para Mercury. Ainda em 1970 ele conheceu Mary Austin, com quem viveu por cinco anos. Foi com ela que assumiu sua orientação sexual e os dois mantiveram forte amizade até o fim de sua vida.
Queen sem Freddie vem ao Brasil nesta semana
O nome chega a causar confusão: Queen + Paul Rodgers. “Mas quem é esse tal de Paul Rodgers, que acha que pode substituir o lendário Freddie Mercury nos vocais do sagrado Queen?”
Rodgers é, simplesmente, um dos maiores nomes do rock da década de 70. Quando ajudou a fundar o Free e o Bad Company, inseriu no gênero um estilo de cantar que foi imitado por muitos, inclusive por Freddie Mercury. “Freddie (morto em novembro de 1991, vítima da aids) tinha-me como inspiração, o que me surpreendeu quando eu soube. Brian (May, guitarrista) e Roger (Taylor, baterista) me disseram que o álbum `Fire and Water`, do Free, era uma espécie de `Bíblia` para Freddie, um disco que o inspirou muito”, afirmou Rodgers por telefone.
Segundo o simpático vocalista, a união não veio para que um substituto de Mercury se intrometesse na história de um dos maiores nomes da trajetória do rock: “Eu não me uni ao Queen. Nós unimos forças. Por isso nos chamamos Queen + Paul Rodgers. Estamos nessa pela música”, disse.
Tudo começou em 2005, quando May e Taylor decidiram chamar o vocalista de 58 anos para tocar em dois shows em Londres. “Tudo uma brincadeira”, afirmou Rodgers. As duas partes gostaram tanto do resultado, que uma turnê européia seguida por uma mundial se estabeleceram após o choque. Sem o baixista John Deacon, Danny Miranda, ex-Blue Öyster Cult, foi recrutado.
No início, Rodgers disse que os shows seriam bem diferentes dos que o público paulistano verá nas próximas quarta e quinta-feira, no Via Funchal. “Íamos tocar metade das músicas do Queen e metade da minha carreira com o Free e o Bad Company. Mas como o Queen não saía em turnê por tanto tempo (desde 1986, com sua formação original), decidimos de comum acordo que seria melhor deixarmos a maior parte das músicas do repertório para as músicas do Queen.”
Os fãs poderão escutar boa parte das músicas que transformaram Freddie em um herói: “We Will Rock You”, “Love Of My Life”, “Radio Ga Ga” e “The Show Must Go On” são algumas delas. Para encarnar na pele do insubstituível Mercury, Rodgers disse ter se esforçado ao máximo: “Conhecia bem as músicas óbvias, como `We Will Rock You`, `We Are the Champions` e `Tie Your Mother Down`, mas tive de aprender músicas como `I Want You Break Free` e `The Show Must Go On`.”
Os obstáculos de Rodgers não parariam por aí. Além de estar mexendo com um público que já consumiu perto de 300 milhões de cópias de discos, o cantor teve que dar uma recauchutada na voz. “Não mudamos o tom de nenhuma música. Muita gente acha que estamos dois tons abaixo do da época do Freddie, mas não. Tive de treinar muito a minha voz. Esse foi o meu maior desafio, mas adorei o processo”, afirmou Paul.
Além dos clássicos do Queen e de pitadas esporádicas de Bad Company e Free, as apresentações da próxima semana terão canções do novo álbum lançado pelo quarteto chamado “The Cosmo Rock”. De acordo com Rodgers, fã de Otis Redding, B. B. King e Albert King, tanto os fãs do Queen como os seus têm aprovado a união: “Este é um projeto revolucionário, que só poderia funcionar dessa maneira, porque obviamente, Freddie não pode estar aqui.” O álbum duplo “Return of the Champions”, de 2005, é uma boa amostra do que esperar da performance do trio ao vivo.
Sobre Freddie Mercury, Rodgers diz se arrepender de não ter tido oportunidade para conversar quando se encontraram uma única vez. “Foi em 1974 quando o Queen veio fechar contrato com o meu empresário, o Peter Grant, também empresário do Led Zeppelin. Não tive tempo de falar com ele, só de dar um alô. Quanto mais conheço seu trabalho, mais o admiro.”
Serviço
Queen + Paul Rodgers. Via Funchal. Rua Funchal, 65, Vila Olímpia, Zona Sul de São Paulo (11) 3188-4148. Dias 26 (quarta) e 27 (quinta), às 22h. De R$ 270 (pista) a R$ 900 (camarote). Mais informações, acesse.
Vocalista era o melhor compositor da banda
Mercury compôs muitos dos sucessos da banda, como “Bohemian Rhapsody”, “Somebody To Love”, “Love Of My Life” e “We Are the Champions”.
Em 25 de novembro de 1992 foi inaugurada uma estátua em sua homenagem, com a presença de Brian May, Roger Taylor, da cantora Montserrat Caballé, Jer e Bomi Bulsara (pais de Freddie) e Kashmira Bulsara (irmã de Freddie) em Montreux, na Suíça, cidade adotada por Freddie como seu segundo lar.
Os membros remanescentes dos Queen fundaram uma associação de caridade em seu nome, The Mercury Phoenix Trust, e organizaram, em 20 de abril de 1992, no Wembley Stadium, o concerto beneficente The Freddie Mercury Tribute Concert para homenagear o trabalho e a vida de Freddie. O cantor também ficou conhecido pelo pseudônimo Larry Lurex e pelo apelido Mr. Bad Guy.
Curiosidades
* Freddie Mercury, por toda sua vida, nunca soube dirigir nenhum automóvel
* Freddie Mercury tinha uma paixão peculiar por gatos. Essa paixão era tão exagerada, que, durante o intervalo de gravações do álbum “Innuendo”, ele apresentou uma música em homenagem a sua gata, Delilah (Dalila). O problema é que o baterista, Roger Taylor, não gostou da música e saiu do estúdio, só voltando no dia seguinte. Mesmo assim, a música “Delilah” foi gravada
* Seu maior sonho era cantar ao lado de Montserrat Caballé, realizando-o em 1988, com o álbum “Barcelona”.
* Freddie nunca se casou com Mary Austin, foram apenas namorados. Mesmo depois de terminar, continuaram grandes amigos. Grande parte de sua herança foi destinada a ela.
* Também morreu no mesmo dia o baterista da banda Kiss, Eric Carr. A banda jamais viajava junto de avião. Dos quatro integrantes, viajam de dois em dois em aviões separados, pois se o avião caísse, a banda poderia continuar com os outros dois integrantes.
PROVÁVEIS MÚSICAS DO SHOW
“Hammer To Fall”
“Tie Your Mother Down”
“Fat Bottom Girls”
“Another One Bites the Dust”
“I Want it All”
“I Want To Break Free”
“C-lebrity”
“Surfs Up… Schools Outs Seagull’ (Bad Company)”
“Love of my Life”
“39”
“Solo de bateria”
“I’m in Love with My Car”
“A Kind of Magic”
“Say its Not True”
“Voodoo”
“Feel Like Making Love (Bad Company)”
“We Believe”
“Solo de guitarra”
“Bijou”
“Last Horizon”
“Radio Ga Ga”
“Crazy Little Thing Called Love”
“The Show Must Go On”
“Bohemian Rhapsody”
“Cosmos Rockin’”
“All Right Now (Free)”
“We Will Rock You”
“We Are the Champions”
http://www.correiodeuberlandia.com.br/texto/2008/11/23/33346/o_legado_de_freddie_mercury.html