‘O Queen não foi o maior da história’, diz autor de livro sobre o grupo

O jornalista britânico Phil Sutcliffe prefere Bruce Springsteen.Morte de Freddie Mercury completou 20 anos nesta quinta-feira (24).

Phil Scutliffe escreve sobre música desde 1974 e jamais foi um “especialista” em Queen. Alguns anos atrás, porém, recebeu um convite: era para fazer um texto biográfico sobre a influente banda britânica formada por Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon, cujo auge se deu nas décadas de 1970 e 80. A encomenda integra um livro ilustrado que saiu lá fora em 2009 e acaba de ganhar versão nacional. Ainda que o principal atrativo de “Queen: história ilustrada da maior banda de rock de todos os tempos” (Editora Globo) sejam mesmo as fotos – e outras imagens que compõem a iconografia do grupo –, o nome que lemos na capa é o de Sutcliffe.

Ele, a propósito, prefere o título original,Queen: the ultimate illustrated history of the crown kings of rock – ou “Queen: a história ilustrada definitiva dos reis coroados do rock”, em tradução livre. Nesta entrevista ao G1, por telefone, o autor fala também sobre “a coragem de Freddie Mercury”, sobretudo em seus últimos dias. Nesta quinta-feira (24), faz exatamente 20 anos que Mercury morreu, vítima de complicações decorrentes da Aids. A seguir, os principais trechos da conversa com Scutliffe.

G1 – O que você acha do título que o livro recebeu no Brasil?
Phil Sutcliffe – Oh! (risos). É um título diferente do original… Eu acho que the crown kings of rock é muito melhor. E não só por causa da ironia, por ser uma banda chamada Queen, a coisa da realeza… Pessoalmente, eu não os chamaria assim [a maior banda de rock de todos os tempos]: trata-se de uma das grandes bandas da história.

G1 – Qual seria, então, a maior banda de todos os tempos?
Sutcliffe – Na minha opinião? Quando você se depara com essa pergunta, você tem de dizer a coisa mais óbvia, clichê: os Beatles.

G1 – Já que é assim, qual a segunda maior?
Sutcliffe – Não sei se você os considera uma banda, mas os meus favoritos de todos os tempos – até mais que os Beatles – são o Bruce Springsteen and the E Street Band. Eu estou fazendo um livro sobre eles, um livro que parece não ter fim. Eu preciso viver por tempo o suficiente para conseguir terminá-lo (risos).

G1 – De onde veio a ideia de escrever sobre o Queen?
Sutcliffe – O convite veio do editor, que fica em Minneapolis [EUA]. É algo comum, que acontece no jornalismo em toda parte: o amigo do amigo de alguém veio e disse: “Phil, você sabe um pouco de Queen, gosta de Queen, então por que não escreve?”. E, na verdade, eu já tinha escrito um livro sobre o AC/DC para esta mesma série da editora, com o mesmo formato – “a história ilustrada de…”. Mas é claro que existe uma equipe [de pessoas envolvidas], pesquisadores do acervo fotográfico. Esse é o lado embaraçoso de ter o meu nome na capa. Escrevi mais que qualquer outra pessoa [neste livro], concordo, mas há outros 20 e tantos escritores.

G1 – Você já tinha escrito sobre o Queen antes de receber essa proposta?
Sutcliffe – Sim, sim. Escrevo sobre o Queen desde os anos 1970, mas não era exatamente uma especialidade minha, e jamais tinha escrito um livro. [Antes disso] a maior coisa que tinha feito sobre o Queen era uma entrevista com o Brian May, em 1991, para uma matéria de capa da “Q Magazine” [revista de música].

O estranho para mim é que você normalmente odeia quando mentem para você, mas eu acho que Brian estava absolutamente certo ao mentir para mim. Eu o admiro, foi uma boa coisa: uma desonestidade completamente justificável, porque Freddie não queria que isso se tornasse público. “
Phil Sutcliffe, jornalista britânico

G1 – A sua opinião sobre a banda mudou depois de ter escrito o livro?
Sutcliffe – Tenho certeza que sim. Aprendi muito mais sobre eles, e acho que Freddie foi o mais surpreendente. Porque ele é originalmente de Zanzibar [antiga colônia britânica, na África] – quer dizer, você já ouviu alguém lhe dizer que é de Zanzibar? É bastante inusitado. E ele também passou um tempo na Índia [de onde eram seus pais], porque tinha sangue indiano, obviamente. Freddie é quase de outro planeta, e isso está em sua personalidade e em seu background, em sua cultura.

G1 – Dentre as histórias que descobriu por causa do livro, qual mais lhe surpreendeu?
Sutcliffe – Eu não conhecia inteiramente a história da doença do Freddie e de sua morte. Para mim, está claro que é uma das histórias mais importantes sobre eles. Eu sabia alguma coisa sobre o assunto, mas foi interessante para mim, uma experiência estranha. Quando entrevistei Brian [em 1991] – o que aconteceu oito ou nove meses antes de Freddie morrer –, fiz perguntas sobre os muitos rumores que havia na época: “Freddie está ok? Ele está bem ou está doente?”. E o Brian mentiu para mim, dizendo que Freddie estava bem, que não havia com que se preocupar.

G1 – Qual foi sua reação ao saber da verdade?
Sutcliffe – O estranho para mim é que você normalmente odeia quando mentem para você, mas eu acho que Brian estava absolutamente certo ao mentir para mim. Eu o admiro, foi uma boa coisa: uma desonestidade completamente justificável, porque Freddie não queria que isso se tornasse público. Mas o que mais me impressionou, durante as pesquisas que fiz sobre a sequência de eventos da época, foi a coragem que Freddie demonstrou. Quando estava muito perto da morte, mesmo assim ele ainda queria cantar, praticamente com o último suspiro que existia em seu corpo. Algo muito tocante – e como se a música fosse seu sangue vital, e ele provou isso.

G1 – O que você planeja fazer nesta quinta-feira, 24 de novembro, quando se completam 20 anos da morte de Freddie Mercury?
Sutcliffe – Oh, sério?! Eu tinha me esquecido [da data], não tinha me dado conta! Eu quero ter bons pensamentos sobre Freddie, que merece bons pensamentos de todos nós. Ele era um homem verdadeiramente maravilhoso e exótico, muito talentoso, as pessoas o amavam. Mas Freddie também era muito corajoso. O preconceito dizia que, se você fosse gay, você não poderia ser corajoso. Mas ele provou que, sim, você pode enfrentar uma das piores coisas que pode acontecer uma pessoa: uma doença que mata gradualmente e dolorosamente, ao longo de dois ou três anos. Uma doença que, basicamente, devora o corpo e mata. E ele a enfrentou, com uma coragem incrível. Ele estaria [hoje] com certeza sorrindo e tocando. O maior show do paraíso (risos)… Isso lhe parece bom?

G1 – Talvez. Mas com quem ele estaria tocando, se fosse o caso, no paraíso?
Sutcliffe – Quer saber com quem? Com Jimi Hendrix, de quem era um tremendo fã. Assim que soube da morte de Jimi Hendrix [em 1970], Freddie teve de sair do trabalho, em um pequeno mercado em Londres, e voltar correndo para casa, porque não conseguia continuar. Brian May me contou que tudo que havia no flat de Freddie, naquela época, remetia a Jimi Hendrix. Havia pinturas na parede e várias outras coisas. Freddie era um bom artista e fazia ele mesmo essas pinturas.


Fonte: www.g1.com.br
Dica de: Roberto Mercury

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