Com praticamente trinta anos de carreira, Jeff Scott Soto vem a Goiânia divulgar seu novo disco, Damage Control. Ao longo desse tempo, já esteve – e está – envolvido em vários projetos, como a épica banda progressiva Trans Siberian Orchestra e a novata W.E.T.. Ficou famoso ao tocar ao lado de Yngwie Malmsteen nos anos 80, foi compositor e vocalista da banda imaginária Steel Dragon, do filme RockStar e foi membro da Talisman, até a dissolução da mesma em 2007 após a morte de Marcel Jacob. Influenciado por Freddie Mercury e Steve Perry, Jeff Scott Soto é conhecido hoje como uma das vozes mais marcantes do rock’n roll.
Por José Abrão
Fotos: José Jair Bazán
Pra começar, você já fez vários tributos a seus ídolos, como Dio, Iron Maiden, Freddie Mercury, Ozzy. Qual teve o maior impacto na sua carreira e na sua vida?
Jeff Scott Soto: Bom, a maior parte dos tributos são sessões que eu sou contratado para fazer, não é exatamente porque eles são meus ídolos e influência. Dos que você disse, quem foi uma enorme influência foi Freddie Mercury, é claro. O que eu posso dizer, ele e a Queen foram uma das minhas maiores inspirações e influências quando eu era criança e adolescente, naturalmente esse foi o maior impacto em comparação aos outros caras. Eu amo Aerosmith e Ozzy e todas as coisas que eu gravei tributos, mas no âmbito de impacto e influência, é definitivamente Freddie Mercury.
Já que você mencionou o Queen, eu gostaria de saber, como o Queen Extravaganza aconteceu? Como você se envolveu no projeto?
JSS: Eu sabia dessa ideia que o Roger(Taylor, baterista do Queen) e o Brian(May, guitarrista do Queen) falavam a anos e que demorou um tempo pra acontecer porque ambos estavam ocupados com suas próprias coisas, assim como outras relacionadas ao Queen e essa era uma ideia que não era tão prioritária na época. Então finalmente o Roger quis fazer, mas o Brian estava muito ocupado então resolveram se dividir: Roger ia tomar conta do Queen Extravaganza enquanto o Brian se concentrava no musical e em outros assuntos do Queen. E então no começo, há uns três anos atrás, eu sabia dessa ideia, nós a discutimos, ensaiamos algumas coisas e algumas ideias sobre o que eles queriam fazer, quando o Roger assumiu o projeto e botou o pé no acelerador e fez acontecer. Ele me ligou e me perguntou se eu estaria interessado em fazer parte disso e é claro que eu disse sim.
Da última vez que você esteve no Brasil você tinha acabado de sair de uma turnê com a Trans Siberian Orchestra. Como foi? Digo, é enorme!
JSS: Eu faço turnê com eles todo ano, já estou indo pra minha quinta turnê, recomeçamos no mês que vem. Desde 2008, que foi quando eu fiz pela primeira vez. Nós fazemos duas turnês separadas, a Winter Tour (Turnê de Inverno), que são dos álbuns relacionados ao Natal e a Spring Tour (Turnê de Primavera) que são sobre os álbuns não relacionados a temas natalinos. Há muita coisa acontecendo com a TSO, eles estão expandindo para coisas novas, novas histórias, novas produções o tempo todo. Eu sou parte da família TSO agora e tenho certeza de que farei muito projetos diferentes com eles no futuro.
Você tem – e tinha – vários projetos. É uma coisa de workaholic ou você se sente limitado com um projeto só?
JSS: Infelizmente, uma banda só não paga as contas. Eu vejo o que eu faço e não é porque não estou comprometido com um único projeto. É claro, eu adoraria estar comprometido com um projeto só. Mas eu tenho que me sustentar, pra começo de conversa, e se quero fazer da música meu ganha pão, então tenho que me envolver em várias coisas que me permitam isso. Mas neste ponto da minha carreira eu cheguei em um patamar em que eu posso escolher os projetos dos quais eu quero fazer parte, posso dizer sim e não. Eu fiz coisas no passado que eu provavelmente diria não agora e tudo o que eu faço agora foram projetos dos quais eu escolhi fazer parte. Não é workaholic, desde que eu agende tudo direitinho, dá pra fazer tudo.
Você é um fã do Steve Perry, do Journey e você teve a chance de ser o vocalista do Journey por um tempo. Como você se sentiu?
JSS: Foi uma ótima experiência. Eu acho que Steve Perry e Freddie Mercury foram os vocalistas que mais causaram impacto na minha vida. Eu sabia todas as letras de todas as músicas do Journey e por isso nem precisei pensar na escolha de me juntar a eles, eu sabia que eu podia assumir aquela posição. Foi ruim que não continuamos, mas tudo acontece por uma razão e estou feliz por não estar mais com eles.
Para o seu novo álbum, o Damage Control, de onde você tirou sua inspiração?
JSS: Eu queria que ele fosse rock’n roll de novo. Meu último álbum, o Beautiful Mess, era mais pop e tinha uma base mais de R&B e um som mais soul, o que era algo que eu queria fazer há muito tempo. Com minha carreira solo eu gosto de misturar e fazer coisas que eu não faria com nenhum outro grupo. Com o Talisman eu não faria muitas das coisas que faço na minha carreira solo, por isso é minha carreira solo: eu posso me expressar como um artista solo. Quando chegou a hora de fazer esse novo disco eu não queria fazer nada além de um álbum de hard rock, por isso fui inspirado a pegar pesado. Até mesmo no próximo álbum eu quero ficar mais pesado.
Você já está compondo para o próximo álbum?
JSS: Estou começando a juntar algumas ideias, provavelmente não vou voltar para o estúdio até o verão do ano que vem, mas estou juntando ideias agora pra depois falar “ok, essa turnê acabou”, não quero correr com as coisas para o estúdio, quero ir juntando tudo aos poucos pra estar preparado quando chegar lá, para ter uma variedade de material do qual escolher.
Você tem dois músicos brasileiros na banda, o Edu e o BJ, como você os conheceu e como eles se tornaram parte da sua banda?
JSS: Eles faziam parte da banda de apoio quando eu vim pra São Paulo pela primeira vez em 2001. Eu vim sozinho, o produtor que me trouxe disse que não podia trazer minha banda completa, mas disse que eu podia confiar nesses caras pra fazerem meus shows e nos tornamos muito amigos naqueles poucos shows que fizemos e toda vez que eu vinha ao Brasil a banda da qual eles faziam parte, a Tempestt, abria os meus shows porque éramos grandes amigos e eu os acho muito talentosos. Aí em 2008 eu fiz uma turnê em que eu apresentei o Tempestt para o público europeu sabe, Jeff Scott Soto Apresenta: Tempestt. Fizemos umas 3 ou 4 semanas de shows e eles tocavam metade do set list e depois eu fazia a outra metade com eles. Porque eu queria que as pessoas vissem e conhecessem essa banda e foi aí que eu percebi que eu realmente queria esses dois caras na minha banda, não só pelas suas personalidades, mas sua técnica era tudo o que eu precisava para completar o meu line-up.
Você gosta daqui? Tem alguma banda brasileira com a qual você gostaria de se envolver?
JSS: Eu realmente não conheço o cenário musical brasileiro. Eu conheço Sepultura, Angra e Shaaman, sabe. São três das poucas que eu conheço. Não me interesso muito pela música cultural, como samba, mas também conheço pouco das bandas de hard rock daqui. E quando estou aqui, estamos sempre trabalhando muito e não tenho tempo pra relaxar e conhecer. Nos meus dias de folga eu apago pra estar pronto para a próxima parada para que os shows fiquem bons. Talvez algum dia eu tenha a chance de experimentar melhor.
E que tal vir para o Brasil e realizar um projeto aqui?
JSS: Na verdade, eu vou gastar mais tempo produzindo meu próximo álbum, gastar mais tempo compondo com os caras e outros músicos locais que eu conheci enquanto gravava o Damage Control. Eu fiquei tão satisfeito que realmente gostaria de tirar um tempo e vir passar um tempo com eles e trabalharmos juntos para ver se temos uma nova vibe, uma nova experiência. E como você disse, acho que vou ter que vir pra cá passar uns dias.
Sobre os fãs do Malmsteen e do Talisman, eles podem ter alguma esperança de uma turnê ou um álbum?
JSS: Fãs do Malmsteen: muito improvável. Eu trabalhei com o Yingwie há trinta anos atrás, foi um trabalho clássico e não tenho desejo de revisitá-lo. Quanto ao Talisman, há sempre a chance de fazermos uma turnê de reunião ou uma turnê tributo, mas não faríamos outro álbum, ou não faríamos um álbum nos chamando de Talisman sem o Marcel(Jacob), não me interessaria. Ele era a espinha dorsal da Talisman, era a grande mente por trás da banda, o líder, tanto em composição quanto em fazendo as coisas acontecerem e seria estranho usar o nome Talisman. Eu preferiria gravar algo que soa como Talisman e lançar com o meu nome. Usar o nome Talisman seria uma eploração.
E quando você volta para o Brasil?
JSS: Bem, parece que eu venho aqui todo ano e sempre tenho uma boa desculpa ou uma boa razão para vir aqui, então direi 2013. Mas uma coisa eu prometo, já disse isso em outras oportunidades: meu último DVD ao vivo foi em 2009, em Madri, e eu acho que o próximo tem que ser feito no Brasil, temos que fazer um DVD ao vivo no Brasil, se pudermos bancar, se pudermos fazer acontecer, eu gostaria de gravar músicas em cidades diferentes, como algumas bandas já fizeram. Já fiz muitos ao vivo de um show só, mas seria legal conseguir pegar de cidades diferentes, atmosferas diferentes, vibes diferentes, palcos e noites diferentes. A mágica acontece em vários lugares diferentes, às vezes não dá pra pegar isso só em um show. Se eu fizer em várias cidades posso falar “música tal em tal cidade ficou incrível!” e montar isso com vários lugares. Acho que isso seria um pacote bacana pra se fazer no Brasil.
Fonte: www.paralelomundi.com
Dica de: Roberto Mercury