Queen no Rio: Deus Salve a Rainha
Fernando de Oliveira
Fonte: O Dia On Line, 30/11/2008.
Havia a suspeita de que era um show caça-níqueis, principalmente por parte de quem nem sequer ouviu o (bom) Cosmos Rocks, disco que Brian May, Roger Taylor e Paul Rodgers (excelente vocalista do Free e Bad Company) produziram. Um disco que não pode e não deve ser comparado com nada feito durante o reinado de Freddie Mercury.
O início do show, com clássicos do velho Queen como Hammer to Fall, Tie Your Mother Down, Fat Bottomed Girls e Another One Bites the Dust, serviu para tirar qualquer dúvida de que o novo Queen é um grupo diferente e que trazia para o Rio um verdadeiro show de rock e não um ato nostálgico.
As interpretações tinham a cara de Paul Rodgers, que está na estrada há mais tempo que o Queen e tem uma presença vigorosa, segura e soube encontrar e marcar o seu lugar na banda. O vocalista (sorridente o tempo todo e parecendo estar se divertindo muito) recebeu uma calorosa recepção e deve ter ficado surpreso ao ver que boa parte do público sabia as letras das novas canções e até mesmo as que cantou do Free e Bad Company.
A HSBC Arena não estava lotada (provavelmente por conta dos caros preços cobrados – o ingresso mais barato custava R$ 120), mas quem pagou foi surpreendido com um set tocado em uma rampa que ultrapassava os limites da platéia vip. Foi lá que Brian May pegou o violão e disse: “Ainda lembro de vocês cantando esta canção nos anos 80…Vamos cantar pelos amigos que estão ausentes. Vamos cantar por Freddie Mercury”.
Ovação, e um momento que poderia soar “ensaiado” transformou-se em pura emoção depois que o guitarrista não conseguiu segurar as lágrimas. Muitos na platéia devem ter feito o mesmo.
Mas se Love of My Life foi tocada no meio do show, o que mais podia acontecer de diferente, além da inevitável We Are The Champions e outros sucessos do velho Queen? Ainda na rampa e sozinho, May começa a tocar uma música pouco comum no repertório do grupo, 39 (do A Night At The Opera, provavelmente o melhor disco do grupo), e aos poucos vai chamando os membros da banda para acompanhá-lo. Funcionou muito bem.
Melhor ainda foi o momento solo de Roger Taylor (que mais parecia um gerente de banco). Ele começou tocando um pandeiro e, peça por peça, uma bateria foi sendo construída enquanto ele fazia seu solo. Depois, emendou I”m in Love With My Car (outra do A Night At The Opera e A Kind of Magic). Taylor fez até solo de baixo com as suas baquetas.
Brian May chegou a dizer antes dos shows de que estavam tocando melhor do que nunca. Melhor eu não sei, mas a sua guitarra está afiadíssima e Roger Taylor fez tudo o que sempre fez e ainda teve o seu momento protagonista.
Ainda tivemos Radio Gaga, Under Pressure Crazy Little Thing Called Love e The Show Must Go On. Freddie apareceu no telão em duas oportunidades (Bijou e Bohemian Rhapsody) fazendo duetos com a banda (o de Bohemian Rhapsody foi espetacular) e com o público, que soube reverenciar o ídolo e respeitar o novo vocalista.
Para terminar Cosmos Rocks, All Right Now (sucesso do Free) e, claro, We Will Rock You e We Are the Champions. May, Taylor e Rodgers mostraram que o show e a vida podem continuar, sem ter que esquecer ou deixar de lado o passado. Músicas, assim como pessoas, podem estar presentes novamente, fazendo uma nova história, um novo futuro.
Eles realmente são campeões.
O Dia On Line, 30/11/2008