Rock in Rio 2011: o fim de um festival de culto ao Rock n’ Roll

Por: Vinicius Canova

Passaram-se então, dez anos corridos desde que o Rock in Rio deu as caras em seu país de origem pela última vez, o nosso grande e diversificado caldeirão de gêneros e gostos chamado Brasil. Durante esse período viajando mundo afora, o festival percorreu o continente europeu, passando por Portugal – em Lisboa – e Espanha, em Madrid.

Posso dizer que o meu primeiro contato com o RIR foi durante o show do Queens of the Stone Age, (durante a terceira edição do festival, em 2001) já que me lembro muito bem das controvérsias que o cercaram, inclusive da antítese que levou o baixista da banda à época, ser preso.

“ – Vi mulheres nuas durante o carnaval, pensei que era legalizado”, justificou o músico. A passagem, mesmo que emblemática, não conseguiu superar o vislumbre que tive ao perceber, durante o show do Red Hot Chili Peppers que o que eu realmente queria, um dia, era estar presente no maior festival de rock da América do Sul.

O som do dueto feito pelo baixista Flea e o guitarrista John Frusciante antes da execução de Californication ainda ecoam na minha cabeça, mesmo que visto e escutado apenas pela televisão, aproximadamente três mil quilômetros de distância do evento. Dez anos depois, junto toda a minha motivação (e dinheiro suado) e compro adiantado quatro dos seis ingressos antes mesmo de anunciarem sequer uma atração do line-up, na confiança de que não teria como ser diferente ou minimamente pior do que a escalação do festejo em 2001. Enganei-me, e feio.

Eu sempre tive consciência de que o público brasileiro é tão miscigenado em gostos musicais quanto em suas próprias raças propriamente ditas. Não vejo mesmo em todo teor do meu otimismo, que um dia haverá um evento grandioso que envolva apenas as figuras do bom e velho Rock n’ Roll. Mas não sou xiita, acho que todo festival tem espaço para todos os gostos, mas, especialmente no “ROCK in Rio”, ênfase no ROCK, deveriam ser resguardadas sim, as devidas proporções.

Muitas bandas boas foram deixadas de fora e a metade das atrações principais fazem parte do rol de música pop e do axé music, que já preenchem o ano todo rodando o Brasil em micaretas, carnavais e carnavais fora de época; sendo o suficiente para acalentar o público alvo dos artístas em questão.

E o Rock? Se não fossem os porões, nos lugares ditos “undergrounds” que ainda cultivam certa idolatria e reverência aos mais pomposos ídolos do gênero musical, os fãs estariam à mercê de festivais como o Rock in Rio – que progressivamente vão aderindo ao clamor popular –, deixando de respeitar assim, inclusive o seu histórico.

Não há como comparar: em 1985, ano de estréia do RIR, os brasileiros foram ao apogeu da emoção presenciando de perto um dos maiores músicos que a história já conheceu: Freddie Mercury à frente do Queen – apesar de não gostar do papel de liderança, a disparidade entre o talento dele para o resto de tudo que se poderia ouvir ou ver, era latente. Além do Queen, não é necessário nem comentar a presença de Ozzy Ousbourne, né?

Já em 1991, o Guns N’ Roses fez, segundo o próprio vocalista Axl Roses, uma de suas melhores apresentações de sua existência, o Sepultura ainda com sua formação integrando os irmãos Cavalera mandaram ver no albúm Arise e o Judas Priest, no Pain Killer. Em 2001, já tragando as veias da música pop e comercial, o festival traz Oasis, R.E.M., Sandy & Junior, Britney Spears e o mais vaiado de todos os tempos: Carlinhos Brown. Mas também foram ao palco Queens of the Stone Age, Iron Maiden, Guns n’ Roses e outras ótimas bandas, como o Deftones, que mostraram a que vieram e mantiveram o nível do festival aceitável e até certo ponto, blindado das críticas.

Em 2011, a bola da vez é Shakira, Cláudia Leite, Ivete Sangalo e Coldplay. As atrações foram anunciadas pelos organizadores do Rock in Rio e compõem os principais shows do festival. Realmente não dá pra entender! No último dos meus pensamentos mais sórdidos e pessimistas não teria enxergado tamanho desrespeito, nem essa total falta de sensibilidade. Os organizadores conseguiram atravessar – e muito, muito mesmo – a linha do razoável, chegando em primeiro lugar no molde do que pode ser tachado de desprezível.

Muitas bandas boas ficaram de fora. Na tentativa de levar ao público a prata da casa, lançou-se a banda Glória – uma banda emo (com gritos) – no palco Mundo, deixando no Sunset (palco secundário) o Sepultura – e toda a sua bagagem musical: Inexplicável e inadmissível. Salvam o festival: Metallica, Guns N’ Roses e Red Hot.

Estou me sentindo extremamente lesado, além de estar muito decepcionado. Esperei dez anos para que o bom filho tornasse a sua casa, para que eu pudesse então, apreciá-lo de perto e, acabo me deparando tamanha deformação.

Eu ainda tenho sorte, porque além do festival vou ao Rio de Janeiro para fazer turismo, já que não conheço o Estado. Mas existem outros como eu, que confiaram na linha tradicional do festival e se adiantaram na compra dos ingressos. Infelizmente, há apenas que se constatar que aquele Rock in Rio com que sonhava a criança de doze anos foi apenas um resquício efêmero de otimismo e um vislumbre panorâmico de um cenário inexistente. A realidade é bem pior, muito pior mesmo!

Fonte: www.rondoniadinamica.com

Alexandre Portela

Fã do Queen desde 1991. Amante, fascinado pela banda e seus integrantes. Principalmente Freddie! =)

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