Lado B – ofuscado pelo Lado A ?
Na indústria da música, A-side e B-side são expressões que estão associadas diretamente aos discos de vinil. Historicamente, o B-side dos discos era composto por canções diferenciadas, experimentais, alternativas. E os A-side apresentavam músicas mais comerciais e feitas pensando no mercado, e na chance de entrar nas paradas de sucesso.
Mas … você gosta de ir pela contramão? Não prefere os B Sides?
Quem vive de arte sente o prazer da curiosidade despreocupada. Talvez o grande desafio seja encontrar o meio termo entre o comercial e o autoral, o pop e o cult, o mainstream e o underground, o lado A e o lado B, se é que isso é necessário. Não é uma questão de escolha, de melhor ou pior.
Os chamados Lado A e Lado B foram introduzidos na Europa pela Columbia Records, e não havia um lado mais importante, visto que as rádios tocavam qualquer um.
Depois, com a fita cassete e os compactos, a relação entre A e B ficou quase insignificante. Com a tecnologia e a internet, isso deixou de existir de vez, até porque as vendas físicas se tornaram algo vintage. Hoje em dia, tecnicamente, as chamadas lado B podem se referir à músicas que não foram incluídas em determinado Álbum, mas que podem ser ouvidas junto à um single ou material extra.
O lado A, ou o mainstream, é o gosto da maioria da população, que alcança grandes gravadoras, altos investimentos, e é muito divulgado pela grande mídia. Já o lado B, ou o underground, é a cena independente, ou quase isso.
Costumam associar o comercial com o que é bom ou com o que vende, e o alternativo como o “doido demais”, “por que fazer assim” e “isso não é rentável”.
Mas não é verdade …
Tem público para todos os gostos e estilos, mesmo que alguns sejam nichados. E isso não serve só para a música, mas para filmes, livros, eventos e peças de teatro.
Não tem lado bom e lado ruim …
E que assim seja.
Afinal, arte não tem lado.
É só uma questão de ponto de vista …
E uma questão pode ser colocada também – até que ponto um sucesso avassalador, um lado A ajuda a projetar um trabalho artístico, ou rotula todo o Álbum, em torno de uma ou duas músicas?
Brian fala sobre isso em uma canção B Side, The Prophet’s Song que abre o lado B do vinil A Night at the Opera.
A Night at the Opera possui várias excelentes músicas, e uma delas, que também é uma obra fantástica, acabou sendo ofuscada pelo brilho e genialidade de Bohemian Rhapsody.
Escrita por Brian May, ela é uma música das mais longas da história do Queen, e também é uma das mais complexas gravadas pela Banda.
Para ser franco, sempre acho uma pena que The Prophet’s Song tenha sido eclipsada, pois Bohemian Rhapsody sempre vai ofuscar qualquer coisa – comentou Brian durante conversa com a Total Guitar.
Brian escreveu a música em meados de 74, quando estava hospitalizado por sérios problemas de saúde. Ele conta que ela foi inspirada em um sonho onde o nosso planeta era destruído, e aquilo fez com que ele refletisse sobre o futuro da sociedade humana e seus problemas de relacionamento, envolvendo questões como empatia e interação social.
O título original da canção era People of the Earth, e sua gravação teve um nível de complexidade comparável ao de Bohemian Rhapsody, com uso de truques envolvendo aparelhos de ar condicionado, instrumentos exóticos, vocais dobrados e muito mais.
Porém a canção acabou não chegando ao grande público, embora seja reconhecida pelos fãs mais ardorosos como uma das grandes obras do Queen.
Isto é algo positivo, diz Brian, possivelmente resignado por sua criação não ter atingido os holofotes da grande massa.
É uma excelente música para se apresentar para as pessoas descobrirem e se aprofundarem (na obra do Queen), as duas músicas são meio que paralelas uma com a outra.
Fontes –
– Whiplash
– Caio Bucker pelo Jornal do Brasil.