Rapsódia Húngara – Um fã do Queen em Budapeste

Nota: Matéria em portugu~es de Portugal


 

 Queen – “Tavaszi Szél Vizet Áraszt”

“Tavaszi szél vizet áraszt, virágom, virágom”

«Rapsódia Húngara – Um fã dos Queen em Budapeste»


Capítulo I – A magia dos Queen

Esta história tem início a 27 de Julho de 1986, quando os Queen actuaram no Népstadion, em Budapeste.  O concerto fez parte da última e  maior digressão dos Queen – a Magic Tour – que terminaria poucos dias depois no Knebworth Park, para um triunfante final, perante 120 mil fãs.

Mas o concerto do Népstadion era especial: marcava a primeira vez que uma banda Rock ocidental organizava um concerto para lá da Cortina de Ferro. O evento era de tal ordem significativo para a Hungria, que os Queen foram recebidos com honras de Estado e o concerto foi gravado em filme (e não em vídeo, como por exemplo, o famoso concerto no Estádio do Wembley) por 17 câmaras de 35 mm, utilizando TODO o equipamento disponível no país.

A 3 anos da queda do Muro de Berlim, o Mundo era um lugar bem diferente na época. Para o público residente no (então denominado) Bloco
de Leste
, ver os Queen ao vivo era uma oportunidade única. Gente de todo o Bloco comunista, desde a Checoslováquia, à Polónia, ou à URSS, foi a Budapeste para ver aquele que ainda hoje é o maior concerto realizado no Népstadion, onde os Queen tocaram para 80 mil pessoas.

Os Queen já tinham tentado tocar na URSS durante a The Works Tour – a mais “global” de todas as digressões da banda – mas tinham sido negados. Numa entrevista em 1985, Freddie referiu-se ao falhanço, alegando que as autoridades russas achavam que os Queen “iriam corromper a sua juventude”. Para a Magic Tour, os Queen tentaram marcar datas na Checoslováquia e na URSS, mas acabaram por ir apenas à Hungria. E já não foi pêra doce.

Como é possível perceber no filme “Live In Budapest” (em 2012 relançado nos cinemas e em Blu-Ray/DVD como “Hungarian Rhapsody: Queen Live In Budapest”), o concerto de Budapeste foi uma espécie de “caixa negra” para os Queen. A banda foi lá sem saber para quantas pessoas iria actuar, como iriam ser distribuídos os bilhetes e até a perder dinheiro.

Para Roger Taylor, o que levou os Queen a Budapeste foi um “tremendo sentimento de satisfação profissional”:


27 anos depois do concerto dos Queen no Népstadion, um grande fã da banda agarra num amigo e decide ir ao local onde um dia a magia dos Queen (pun intended) aconteceu.

Escusado será dizer que o protagonista desta história sou eu.

Capítulo II – The Népstadion Epic
A viagem a Budapeste foi planeada com vários atractivos em mente, visuais e sentimentais. O ponto de intersecção destas duas funções e ponto de interesse máximo da cidade era, para mim, a visita ao Népstadion.

Na marcação da viagem, desde logo avisei o meu amigo que aquele seria um local obrigatório de passagem. Esse e obviamente, o cruzeiro no Danúbio, onde Freddie Mercury alvitrou a ideia de comprar o edifício do Parlamento (a partir do segundo 1:11), perguntando quantos quartos tinha:


Domingo. De manhã, tínhamos ido fazer o referido cruzeiro no Danúbio, ao som de “Tavaszi Szél Vizet Áraszt” – tema popular húngaro que os Queen tocaram no Népstadion – e que eu tocava em repeat no iPhone. À tarde, apanhámos a linha vermelha de metro e fomos em direcção ao Népstadion (hoje rebaptizado de Puskás Ferenc Stadion).

Tudo o que eu queria era entrar no estádio e tirar umas fotografias junto ao local onde os Queen haviam tocado 27 anos antes. Mas não fazia a mínima ideia como. Sabia que entrar no estádio seria muito difícil, a não ser que…

Aparentemente, era o nosso dia de sorte. Noutro dia qualquer, o estádio estaria fechado, mas nesta tarde de Domingo, sem sabermos, havia futebol no estádio e havia jogo grande: o Ferencváros recebia o Videoton, num jogo para disputa dos lugares cimeiros da liga húngara.

O jogo já estava no fim e a equipa da casa (Ferencváros) estava a perder. Nós não sabíamos disto, só sabíamos que as pessoas que víamos junto ao estádio não estavam satisfeitas. E sabíamos que queríamos entrar. Tínhamos de entrar.

À chegada aos portões de entrada, perguntei aos seguranças se poderia entrar durante alguns minutos para tirar umas fotografias (lembro que o jogo estava já nos minutos finais), mas ninguém falava inglês.

Depois veio alguém que me percebia e que aceitou levar-nos lá dentro por alguns minutos, mas… Afinal, NÃO. Afinal não podíamos entrar.

Apontando para o meu amigo, com um olhar triste mas contundente, o segurança disse em inglês arcaico: “Desculpem, mas não podem entrar. White Power lá dentro. Desculpem…”

Importa referir que o meu amigo é de descendência indiana e eu, sendo português, também não sou assim tão branco quanto isso. Basicamente, fomos barrados porque não éramos brancos, ou tão brancos como eles gostariam que fôssemos. Foi como se nos teleportassem para um tempo e um espaço onde o Apartheid vigorava. De uma forma quase mórbida, até estava a ser uma experiência sociologicamente interessante.

Virei-me então para o meu amigo e disse:

   “Olha, afinal não podemos entrar”

E ele, que tinha percebido a ideia da conversa, com ar de estupefacção:

   “Porquê? Por causa de mim?!”

Entretanto, um dos amigos White Power‘s, visivelmente embriagado e enfurecido, aproximou-se por trás de nós, gritando a plenos pulmões algo semelhante a “KURVA!! KURVA!!!”.

Ora bem, eu estou longe de ser um especialista no Magyar, mas reconheci imediatamente aquela palavra das minhas visitas à Polónia, uns anos antes. Também aí tinha tido o prazer de me cruzar com os amigos White Power‘s. Percebi imediatamente que aquela era a nossa deixa para bater em retirada.

No entanto, eu fiquei tão revoltado com aquela merda que lhe disse:

“Co*** ma fo***, mas nós VAMOS entrar lá dentro! Escreve o que eu te digo!”

A história não poderia acabar ali. Já estávamos em Budapeste há uns dias e até aí o povo húngaro não tinham sido nada se não calorosos e hospitaleiros para nós. Aquilo não fazia sentido nenhum.

Os amigos White Power‘s podiam ser mais fortes e em maior número que nós, mas nunca poderiam ser mais espertos. Afinal, estavam a lidar com tugas.

Depois de atravessar a estrada, demos então uma volta em redor do (enorme) quarteirão onde se situava o Complexo do estádio. Encontrámos uma 2ª porta, onde ainda se podia ler o nome antigo do estádio: Népstadion. Hora para mais uma fotografia.

No entanto, esta porta era vedada ao público, por isso não foi desta que conseguimos entrar.

Continuámos a andar.

Entretanto o jogo terminou e começámos a ver os adeptos a sair do estádio. Nesta altura, encontrámos um 3º portão, por onde saíam os adeptos mais “normais” do Ferencváros, com aquelas horríveis camisolas às listas verticais, verdes e brancas.

Estava ali a nossa oportunidade.

Enquanto os adeptos saíam pelos portões, nós fizemos o caminho inverso. Passámos por entre os seguranças e a polícia, subimos as escadas aparentemente intermináveis e voilá: estávamos dentro do Népstadion, apenas a alguns metros de distância de onde os Queen tocaram há 27 anos.

E esta é a vossa lição de hoje: o ódio não vos leva a nenhum lado; a inteligência vai sempre ganhar.

Capítulo III – Virágom, Virágom

“Tavaszi szél vizet áraszt, virágom, virágom*.

Minden madár társat választ virágom, virágom.

Hát én immár kit válasszak? Virágom, virágom.

Te engemet, én tégedet, virágom, virágom.”

Como expliquei em cima, a data do concerto de Budapeste teve enorme importância para os Queen. De tal forma, que a banda ofereceu ao público um presente muito especial, interpretando o tema “Tavaszi Szél Vizet Áraszt” – uma canção popular húngara – algo único na concertografia dos Queen.

Aqui vemos Freddie e Brian a ensaiarem o tema no terraço do hotel (arrisco que seja o Marriott), junto ao Danúbio:

Desde os 6 anos de idade, quando vi pela primeira vez no documentário “Freddie Mercury – A Tribute” (um programa apressadamente compilado pela BBC, para transmissão no próprio dia da sua morte), a interpretação dos Queen de “Tavaszi Szél Vizet Áraszt”, que me apaixonei pelo tema. Mesmo tendo em conta que a língua húngara era completamente indecifrável para mim (na época a língua inglesa também era), o tema ficou para sempre na minha cabeça.

Para os curiosos, a tradução da letra não deve fugir muito disto: 

“O vento da primavera derrete o gelo, minha flor, minha flor.

Todos os pássaros procuram um parceiro, minha flor, minha flor.

E eu, quem hei-de escolher, minha flor, minha flor.

Escolho-te a ti e tu escolhes-me a mim, minha flor, minha flor.”

Uns anos mais tarde, vi o filme “Live In Budapest”, com todas estas imagens que coloquei ao longo do tópico. Sempre na minha cabeça, ficou também a ida a Budapeste, para visitar os maravilhosos locais que via naquelas imagens.

Se aos 6 anos me apaixonei por “Tavaszi Szél Vizet Áraszt”, aos 27 apaixonei-me por Budapeste. Budapest, virágom, virágom.

 

 


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Fonte:  http://escolhamusicaldodia.blogspot.com.br
Dica de: Roberto Mercury

Alexandre Portela

Fã do Queen desde 1991. Amante, fascinado pela banda e seus integrantes. Principalmente Freddie! =)

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