Matéria retirada do site http://whiplash.net Crédtitos texto: Por Doctor Robert | Em 04/06/10
O ano de 1974 começava de maneira muito animadora para o Queen. Após o lançamento de seu segundo álbum, sob o sintomático título de “Queen II”, uma turnê pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos, ao lado do Mott The Hoople, mostrava ao mundo uma banda roubando a cena e prestes a estourar. Mas tudo quase veio por água abaixo, quando o guitarrista Brian May adoeceu, contraindo hepatite, forçando a banda a abortar precocemente sua excursão pela América do Norte. Com May convalescendo ainda no hospital, cujo estado pioraria com uma úlcera estomacal, os demais membros começavam a trabalhar novas ideias em estúdio, elaborando canções nos mais variados estilos. Nascia assim “Sheer Heart Attack”, o álbum de transição entre o início promissor e o estouro mundial do Queen, gravado entre julho e setembro daquele ano, em quatro estúdios diferentes.
A própria abertura do disco traça este elo, amarrando o final de seu registro anterior ao início deste. Após alguns segundos onde se pode ouvir o barulho de uma típica festinha interiorana inglesa e ruídos que lembram um parque de diversões, alguém assobia “Oh, I Do Like to Be Beside the Seaside”, a mesma canção cantarolada ao final de “Seven Seas Of Rhye” em “Queen II”. Paralelo a isso, num crescente fade in, surge a guitarra de Brian May com o riff cortante e veloz de “Brighton Rock”, composição sua que se tornaria, com o passar dos anos, cenário perfeito para desfilar seu longo solo de guitarra ao vivo. Em uma ótima canção, cuja letra fala sobre aventuras extraconjugais, Freddie Mercury lança mão de seu grande alcance vocal de modo muito interessante, fazendo as vozes do homem e da mulher, quase que como em um diálogo. Sem falar no show que May nos proporciona, usando os recursos e efeitos de estúdio como uma extensão de suas habilidades nas seis cordas. A levada instrumental da parte do solo de guitarra é uma herança dos tempos de Smile, a banda anterior ao Queen de May e Roger Taylor – fazia parte de uma música chamada “Blag”.
Dando sequência ao vinil, os suaves estalos de dedos no início de “Killer Queen” impõem um perfeito contraste ao peso da faixa anterior. Nesta canção, trabalhada pela banda enquanto o guitarrista ainda repousava doente, Mercury apresenta uma composição ao mesmo tempo delicada e elaborada, onde homenageia uma famosa prostituta de luxo. A irresistível levada ao piano, combinada com a trabalhada cozinha de Roger Taylor e John Deacon e as camadas de guitarras acrescidas depois por May (que, por sinal, perpetua um belíssimo solo) demonstravam ao mundo um pouco do real poder de fogo da banda. Atestando sua qualidade veio o conceituado prêmio Ivor Novello de melhor canção do ano da Inglaterra. Foi ainda o primeiro grande êxito da banda mundialmente.
Ouvindo o álbum, fica evidente a melhoria na produção e mixagem das canções, fruto da parceria com Roy Thomas Baker, que já havia trabalhado com a banda nos dois registros anteriores. E a evolução sonora continua com uma suíte interessante (e recentemente regravada pelo Dream Theater), formada pela interligação de “Tenement Funster”, boa canção escrita e cantada por Roger Taylor sobre um jovem roqueiro rebelde, com duas composições de Mercury, “Flick Of The Wrist” e “Lily Of The Valley” – a primeira mais agressiva, com Freddie cantando em duas faixas de oitavas diferentes, e a segunda mais singela, com mais um belo trabalho de Brian May e suas guitarras orquestradas – trazendo em sua letra mais uma referência a “Seven Seas Of Rhye”, do álbum anterior. Brian May é o autor da próxima música, “Now I’m Here”, segundo single de sucesso do álbum, e presença obrigatória nos shows da banda até sua última turnê. A canção foi escrita por ela ainda no hospital, com referências à turnê da banda junto ao Mott The Hoople. May gravou, ainda, o piano na faixa. Aqui, tanto ele quanto Mercury usam à perfeição o efeito delay, proporcionando um leve eco na guitarra e maior nos vocais, em sua introdução – tudo repetido à perfeição ao vivo. O interessante era que, nos shows, em meio a truques de iluminação e fumaça, um roadie vestido de Freddie se alternava com o próprio no palco, no início da música onde o vocalista canta “Now I’m Here… Now I’m There…” (agora estou aqui… agora estou lá…), criando um truque de ilusão interessante (alguém aí já assistiu ao velho VHS “Live At The Rainbow”, de 1974?).
Freddie Mercury encontrava-se em grande fase como compositor, prestes a atingir seu auge. Idéias criativas pareciam brotar em profusão a cada momento. Prova disso fica na variedade de estilos de composições que levam sua assinatura neste disco. A faixa seguinte, a caótica “In The Lap Of The Gods” demonstra sua versatilidade ao piano e conta com grande contribuição do batera Roger Taylor nas vocalizações extremamente agudas. Já “Stone Cold Crazy”, de autoria assinada em conjunto pelos quatro membros, é uma verdadeira paulada. Autêntico heavy metal sobre gangsteres e Al Capone, com certeza é a faixa mais pesada gravada pelo Queen em sua carreira. Curiosamente ela foi uma das primeiras composições surgidas quando ainda da formação da banda alguns anos antes, derivada de uma outra canção de Mercury em seus tempos de Wreckage, e talvez a primeira canção executada ao vivo pelo Queen em um palco – em uma versão um pouco mais lenta, e com letras diferentes, segundo relatos dos próprios membros. A faixa ganhou ainda uma sobrevida muitos anos mais tarde, ao fazer parte da trilha sonora da infame comédia “O Homem da Califórnia”, com Brendan Fraser (o mesmo ator de “A Múmia”), bem como na releitura feita pelo Metallica, que lhes valeu até um Grammy de melhor performance heavy metal em 1991.
Acalmando os ânimos, “Dear Friends” traz a banda exercitando seus vocais novamente, abrindo passagem para a primeira composição do baixista John Deacon a ser registrada, a deliciosa “Misfire”, semi-folk e semi-reggae onde ele assume ainda o violão e quase todas as guitarras. A seguir, mais uma extravagância de Mercury: “Bring Back That Leroy Brown”. Esta faixa põe em cheque toda a versatilidade musical da banda, com sua levada meio jazzística, que nos remete aos tempos do cabaré e aos antigos filmes musicais da Metro, tão admirados pelo seu compositor. Instrumentos como contrabaixo acústico e um ukelele-banjo dão as caras nesta mini salada musical de pouco mais de dois minutos, cuja parte instrumental foi executada muito tempo encerrando os memoráveis medleys que a banda fazia nos palcos. Nos vocais foram usados efeitos interessantes, alterando a rotação das fitas de gravação – assim como em “In The Lap Of The Gods”.
“She Makes Me”, composta e cantada por Brian May, pode ser considerada a canção “menos boa” da obra. Sua levada arrastada, meio chapada, tem suas qualidades, mas destoa um pouco do restante. Traz John Deacon novamente no violão, e um final com efeitos sonoros chamados por Brian de “sons de um pesadelo em Nova York”. Enfim temos “In The Lap Of The Gods… Revisited”, de Mercury, que, apesar do nome, não lembra em nada a canção homônima anterior, fechando o disco com chave de ouro. Feita como peça para os encerramentos de seus shows (objetivo melhor conseguido com “We Are The Champions”), foi brilhantemente resgatada e executada na “Magic Tour”, de 1986 (conforme pode ser conferido no álbum “Live At Wembley ‘86”). E, ao vivo, a exemplo do que se ouve no estúdio, acabavam “explodindo” tudo (que também pode ser conferido no citado VHS “Live At The Rainbow”).
Embora não seja seu melhor trabalho, “Sheer Heart Attack” quase chega lá, figurando como um marco na carreira do Queen. Foi o momento definitivo onde a banda e o produtor começaram a usar todos os recursos que os estúdios podiam proporcionar em favor das músicas, assim como seus ídolos Jimi Hendrix e Beatles costumavam fazer. E graças a este álbum, seu sucesso, suas extravagâncias e experimentações, a banda ganhou moral junto à gravadora e sedimentou o terreno para o surgimento de sua maior obra-prima, “A Night At The Opera”, em um momento onde passavam por grandes atritos com seus empresários e representantes… mas isso já é assunto para outra oportunidade…
P.S.: A música de nome “Sheer Heart Attack”, composição quase punk de Roger Taylor e executada por muito tempo ao vivo pela banda, faz parte do álbum “News Of The World”, de 1977, e não deste homônimo.
Faixas
1. “Brighton Rock” (Brian May) – 5:08
2. “Killer Queen” (Freddie Mercury) – 3:01
3. “Tenement Funster” (Roger Taylor) – 2:48
4. “Flick of the Wrist” (Freddie Mercury) – 3:19
5. “Lily of the Valley” (Freddie Mercury) – 1:43
6. “Now I’m Here” (Brian May) – 4:10
7. “In the Lap of the Gods” (Freddie Mercury) – 3:20
8. “Stone Cold Crazy” (Mercury/May/Taylor/Deacon) – 2:12
9. “Dear Friends” (Brian May) – 1:07
10. “Misfire” (John Deacon) – 1:50
11. “Bring Back That Leroy Brown” (Freddie Mercury) – 2:13
12. “She Makes Me (Storm Trooper in Stilettos)” (Brian May) – 4:08
13. “In the Lap of the Gods … Revisited” (Freddie Mercury) – 3:42
Produzido por Roy Thomas Baker e Queen.
Nota: 10
Fonte: Matéria retirada do site http://whiplash.net Crédtitos texto: Por Doctor Robert | Em 04/06/10
Que álbum maravilhoso!!Mas poderia ser mais divulgado e conhecido. Admiro suas composicões criativas e variadas que fazem com que eu o escute por intero, direto, sem pular nenhuma faixa.
Muito boa essa crítica!!!
Parabéns, Doctor Robert!!!
sim por enteiro msm, senão perde a magia. é tipo o ANATO.
nota 1000 pra ele!
Abraços =)