O Queen de Paul Rodgers
Primeiro álbum do Queen em 13 anos, “The cosmos rocks” não acrescenta muito a nenhuma das duas partes
Quando o cantor Paul Rodgers, que já esteve à frente do Free e do Bad Company na década de 1970, se juntou ao guitarrista Brian May e ao baterista Roger Taylor, ambos sobreviventes do então finado Queen, em 2005, a idéia era apenas sair por aí tocando. A turnê virou um belíssimo CD duplo e DVD ao vivo, com músicas das três bandas em questão: muitas do Queen e poucas dos trabalhos de Rodgers. A química rolou tão bem, sempre com muito respeito ao falecido e insubstituível Freddie Mercury, que os três decidiram ir longe demais: gravar um álbum de canções inéditas sob o nome de Queen + Paul Rodgers. E assim nasceu “The cosmos rocks”, primeiro disco do Queen desde “Made in heaven”, lançado em 1995, após a morte de Mercury e ainda com o baixista John Deacon na ativa.
O problema é que o nome do Queen é muito mais pesado que o de Rodgers – a despeito do imenso e inquestionável talento do cantor, que, ao não tentar imitar Freddie Mercury deu uma convincente nova abordagem aos clássicos da banda britânica naquele disco e DVD ao vivo. Só que o disco, composto e executado pelos três – John Deacon não quis sair em turnê antes e não quis gravar agora, e Brian May e Paul Rodgers se revezaram na gravação das linhas de baixo -, cria expectativa maior do que pode suprir, dada a quantidade de hits o Queen deixou registrado na história da música. Na verdade, parece um disco de Paul Rodgers tendo o Queen como banda de apoio. E, cá entre nós, tirando um “All right now” aqui e acolá, as bandas pelas quais Rodgers passou não deixaram um legado tão referencial quanto o Queen fez.
Mas o próprio Brian May se justifica bem no release en***** à imprensa para o lançamento norte-americano de “The cosmos rocks”. Segundo ele, “há muitas orquestrações de guitarras e algumas de nossas marcas registradas, mas, no centro de tudo, o que você vai somos nós três tocando, pessoas realmente tocando juntas no estúdio – e você não vê muito disso nos dias de hoje”. Até aí, perfeito, May não poderia ser mais definitivo sobre “The cosmos rocks”. O pouco que há de Queen lembra coisas que a banda fez na década de 1970, que é justamente a praia em que a voz blueseira de Rodgers se sai melhor. E ignore o single “C-lebrity”. Ela está entre os não-destaques do CD. Começa muito bem, lembrando clássicos roqueiros como “Fat botommed girls” ou “Tie your mother down”, até ser assassinada em um refrão choroso e descabido. Bem melhor é a despojada “Cosmos rockin’”, que abre o CD de forma festeira e descompromissada, ou a pesada “Warboys”.
“Time to shine” tenta recuperar o jeito grandiloqüente de fazer música, mas não cola. No baladão “Say it’s not true”, que fala sobre Aids e foi lançado antes em outra versão, como doação para a campanha 46664, de Nelson Mandela, Taylor e Rodgers dividem vocais, e Brian May mostra porque é e sempre será um deus da guitarra. Esta é bem mais eficiente na tentativa de fazer um daqueles épicos que marcaram a carreira do Queen. “Still burning”, por sua vez, traz uma dispensável citação do hit máximo “We will rock you”. Embora o álbum seja nominalmente dedicado a Freddie Mercury, era melhor, já que este é “Queen + Paul Rodgers”, deixar os mortos descansarem em paz. Entre as canções mais pop – o CD é eminentemente pop, e a produção não ajuda muito a faze-lo certo -, é impossível não comparar “Call me” com “Crazy little thing called love”.
Entre estes altos e baixos, o disco acerta mesmo quando acha os músicos em sintonia. É o caso da balada bicho-grilo “Small”, que não deve demorar a virar single depois que “C-lebrity” se esgotar, e mais ainda do arrepiante blues “Voodoo”, em que Brian May encarna Carlos Santana com arrepiantes solos curtos entre um lamento e outro de Rodgers, em uma das melhores interpretações da carreira do vocalista. É assim: quando acertam, veteranos acertam em cheio. Mas, quando erram, pelo tamanho da expectativa que geram, deixam muito a desejar. Por esta irregularidade ao longo das 13 faixas, “The cosmos rocks” não acrescenta muito à carreira de Paul Rodgers, e muito, muito menos à do Queen.
Por: Wendell Guiducci
Jornal Tribuna de Minas de Juiz de Fora – MG
Realmente, meio Queen não poderia fazer trabalhos com a mesma qualidade que o Queen completo fazia. Isso já era esperado..
Mas também, a pessoa que fez essa matéria, não tem muiiiita credibilidade. hehehe
A crítica é perfeita e acerta no alvo.