. Você sabia?
Como a discoteca Toco, em São Paulo, ajudou a trazer o Queen para o Brasil em 1981.
Esta ousadia partiu da Toco Produções Artísticas, que bancou a produção estimada em dois milhões de dólares, um valor que, proporcionalmente para a época, era ainda mais alto que na realidade atual.
Com apoio total da mídia – TV e Rádio Bandeirantes transmitiram o show, uma multidão lotou o Morumbi na sexta-feira, 20 de Março de 1981.
Nunca houve um número exato (o que também era bem comum em atrações desse porte), mas estima-se que quase 200 mil pessoas lá estiveram.
No dia seguinte, nova dose, também com ingressos esgotados.
Marco Antonio Tobal, em seu depoimento, explicou como surgiu a oportunidade da equipe da Toco trazer a lendária Banda ao Brasil –
Marco Antonio Tobal,
Eu estava com o William (Crunfli) em 1978 na Avenida Paulista e nós vimos que tinha uma apresentação de raio-laser no vão do MASP.
Uma tenda gigante, passando raio-laser e fomos lá e contratamos esse produto para levar na Festa da Toco no Ginásio do Corinthians, naquele mesmo ano.
O dono desse raio-laser, Billy Bond, que era roqueiro de uma banda punk rock chamada Joelho de Porco, um belo dia chega para mim e para o William e fala –
Olha, tem um amigo meu de Beverly Hills (California, EUA) que está trazendo o Queen para a América do Sul, lá para a Argentina e não tem ninguém para fazer esse show no Brasil …
E naquela época ninguém sabia o que era o Queen, mas na Toco já tinha uma verdadeira legião de fãs deles e todo mundo sabia que era uma loucura.
Aí a gente acabou contratando o Queen através do nosso amigo Billy Bond.
Billy Bond.
E o Queen foi aquela loucura que todo mundo sabe e serviu de base para o Roberto Medina fazer o Rock In Rio, e foi uma honra para nós !
Tobal tinha apenas 26 anos quando bancou, em 1981, a vinda do Queen à São Paulo, em uma época em que raríssimas estrelas internacionais se arriscavam a pôr os pés por aqui.
▪️Quem era a Toco Produções Artísticas
A Toco foi responsável pela popularização de ritmos e Bandas famosas, sendo também responsável por organizar no Brasil, além do Queen, shows como Information Society, A-Ha, KC and the Sunshine Band, Technotronic e muitas outras.
Esses shows foram organizados por eles, mas realizados em outros espaços maiores, como estádios de futebol.
▪️O início da Toco
Nos anos 70, na zona leste de São Paulo, Brasil, um grupo de quatro adolescentes apaixonados por música transformou bailinhos na maior casa noturna da cidade, a Toco Discoteca, que faria do bairro Vila Matilde o destino de jovens paulistanos em busca de diversão.
Os amigos William Crunfli, Marco Antonio Tobal, apoiados por Romualdo Hatt e Luiz Mattos, decidiram organizar festas nas casas da vizinhança, juntar dinheiro e bancar a diversão.
William Crunfli
Era 1971, e no bairro de São Paulo – Brasil – Vila Matilde, viviam muitas famílias de imigrantes, sobretudo espanhóis, italianos e portugueses.
O ponto de encontro era a Praça da Conquista.
O bairro era muito simples. Tinha uma padaria, um mercado, um dentista e uma escola. Ainda haviam chácaras e sítios, diz Crunfli, 62 anos, hoje presidente da produtora de shows Move Concert.
Um ano depois do início da empreitada, os adolescentes batizaram o grupo de Equipe Toco – em homenagem ao sobrinho pequeno de Tobal, Alexandre, apelidado de Pitoco, mas que só conseguia pronunciar Toco.
Por alguns anos, os amigos se dedicaram a organizar bailes em garagens e quintais. Com mais público e dinheiro, passaram a ocupar uma fábrica nos fins de semana.
Depois, a Toco adotou o salão de festas da Sociedade Amigos da Vila Matilde, trocando-o mais tarde pelo ginásio de esportes do local.
▪️O crescimento da Toco
Em 1979, conta Crunfli, veio a decisão de profissionalizar o negócio, e a Toco passou a ocupar o prédio onde antes funcionava o Cine São João, na Praça da Conquista.
O lugar recebia até 4.000 pessoas por noite nos fins de semana. A casa da zona leste se destacava pela estrutura de som e iluminação, com equipamentos importados, e pelas músicas.
Orgulhoso, Crunfli diz que foi o primeiro DJ a tocar Pink Floyd numa pista de dança.
Não demorou para as baladas atraírem jovens de outras regiões de São Paulo. Quem não conseguia entrar por causa da lotação ficava na Praça da Conquista, até hoje conhecida como Praça da Toco.
É um patrimônio da Vila Matilde. Na época da Toco, era dominó de dia e festa à noite, diz Crunfli.
A Toco deu tão certo que, em 1981, entrou no segmento de organização de shows. Os britânicos do Queen, que se apresentaram no estádio do Morumbi, foram os primeiros da empreitada.
Da esquerda para a direita: John Deacon, William Crunfli, da Toco; Freddie Mercury; outro fundador da casa, Marco Antônio Tobal, Brian May; e Roger Taylor, em 1981
Depois, vieram nomes como Faith No More, Ramones e Shakira.
Para manter a Toco atualizada, haviam reformas a cada dois ou três anos.
Para promover as noites, os sócios contratavam Bandas, como Blitz e Mamonas Assassinas, e atores, que iam aos camarotes.
▪️O fim da Toco Discoteca
A decisão de fechar as portas veio em 1997.
As discotecas não eram mais tão grandes, recebiam no máximo 700, ou mil pessoas. A concorrência aumentou, e as pessoas já não cruzavam mais a cidade para ir à balada na Vila Matilde, diz Crunfli.
Em Dezembro de 2016, a casa onde funcionou a Toco foi demolida para a construção de um supermercado.
▪️Homenagens
Desde que fechou as portas em 1997, a Toco é sempre lembrada no cenário dance da cidade, e de lá pra cá aconteceram diversas festas em homenagem à antiga danceteria.
▪️Fontes –
Folha UOL
Musicjournal
VejaSp Abril