ADTR: Depois da tempestade a bonança – Por Renato Gurgel

Em mais uma análise feita pelo Prof. Renato Gurgel, membro do grupo de WhatsApp Queen Net, vamos aprender um pouco mais sobre o ADTR (A Day At The Races)….
É um texto longo, mas vale a pena a leitura.

 

Depois da tempestade a bonança (será!?).

Quando coloquei o álbum A Day At The Races para tocar enquanto pegava a caneta para escrever sobre ele, me veio uma ideia de que A Night At The Opera seria o Lado Branco de Queen II enquanto A Day At The Races seria o Lado Negro. Assim como um lado é a continuação do outro em Queen II, ADATR é uma continuação de ANATO (A Night At The Opera). Havia ali uma fórmula que o Queen seguiu e que claramente não é normal para a banda. Mas o momento pareceu propício.

O lado Branco de Queen II é teatral, mágico, com uma sonoridade profunda desde a faixa de abertura, passando pela épica Father To Son (que lembra uma música barroca – ornamentação elaborada, harmonias complexas e melodias virtuosas), passando por baladas, mas sem deixar a pegada rock’n’roll de lado. Não sei por que cargas d’água essa comparação me veio à cabeça. ANATO também é assim, leia o texto que escrevi anteriormente. Camadas e mais camadas de mensagens, sons, texturas musicais.

Já o Lado Negro de pesado, atrevido, enigmático, passando pela bela balada Nevermore, mas que tem como ícone principal uma música que antecede as obrar The Prophet’s Song e Bohemian Rhapsody, The March Of The Black Queen.

Assim é A Day At The Races.

Aos primeiros acordes de Tie your Mother Down de Brian May você sente um atrevimento da essência do rock. “Isto é apenas rock’n’roll” diria Freddie. Tie Your Mother Down é um hino à individualidade, rebeldia e à quebra das correntes das normas sociais.

 

Falando em pegada rock a canção White Man, que aponta o dedo diretamente na face daqueles que são imperialistas e ditos conquistadores de um novo mundo e seus heróis, que nunca o foram, mas que, em nome de uma força, maior escravizam, matam, destroem a seu bel-prazer. A força dessas duas músicas, com mensagens tão distintas, me faz querer levantar da cadeira e balançar o esqueleto.

 

Deacon mais uma vez deu as caras com uma música pop simpática chamada You and I (bem distante do sucesso que foi You’re My Best Friend). Uma canção que apela para o Carpe Diem nosso de cada dia. Aproveite o hoje. O amanhã? Nunca saberemos.

 

Freddie também nos brindou com uma canção nesse estilo, mas mais provocador (com ele não seria diferente), cheia de intimidade entre gestos simples e elegantes. Good Old-Fashioned Lover Boy traz uma pegada de conquista, sofisticação e luxo de um encontro romântico. Bem ao estilo de vida que Freddie gostava de viver. Vive la vie.

 

Já em You Take My Breath Away conseguimos observar um Freddie mais romântico e intensamente apaixonado (tão apaixonado que chega a ficar sem fôlego), mas ao mesmo tempo existe um medo avassalador de perder o amor (So, please, don’t go / Don’t leave me here all by myself / I get ever so lonely from time to time). Lembrando Love Of My Life onde o eu lírico não consegue viver sem o amor que foi levado para longe (Love of my life, don’t leave me / You’ve taken my love (all my love), / you now desert me). Refletindo a personalidade de Freddie que sempre falou abertamente de sua solidão e dificuldade de amar e ser amado.

 

Teo Torriatte (Let Us Cling Together) é outra canção de amor, dessa vez escrita por Brian May e que tem um pequeno trecho em japonês, para expressar o carinho da banda pelos amigos orientais. Arigatou【 ありがとう 】.

 

Brian também contribuiu com uma canção onde ele mesmo canta e que é um dos arrependimentos de sua vida como músico, pois não conseguiu convencer o grupo a lançá-la como um single do álbum. Long Away é uma daquelas canções que reflete sobre a melancolia da vida (You might believe in heaven / I would not care to say / For every star in heaven / There’s a sad soul here today), solidão (Lonely as a whisper on a star chase / Does anyone care anyway) e uma constante busca por significado para a vida (Hurry put your troubles in a suitcase / Come let the new child play). Essa canção é bem especial para mim, pois muitas vezes a solidão foi minha companheira inseparável (aquela pantera), e ela tem uma dinâmica crescendo no fim dela que sempre me deu ânimo para continuar seguindo com a vida.

 

Roger mais uma vez contribuiu com uma canção que ele mesmo cantou. Drowse é dessas canções que traduzem sentimentos de uma forma única. Ela consegue traduzir uma letargia que leva a um relaxamento enquanto escutamos Brian se esforçando no slide em sua Red Special.

 

Da mesma forma que Freddie consegue nos levar para um baile de valsa ao melhor estilo Wooden Waltz no século XVIII com The Millionaire Waltz. A música trata de uma paixão primaveril onde o amor está em todo lugar, porém a orquestração alcançada pela banda e principalmente as elaboradas orquestrações de guitarra de Brian elevam a canção para uma teatralidade e dramaturgia para além do que a letra da música propõe quando lida isoladamente.

 

Por fim, mas longe de ser a menos importante, temos Somebody to Love, que equivaleria a Bohemian Rhapsody no álbum ANATO ou The March of The Black Queen no Lado Negro de Queen II.

Somebody To Love é hoje um clássico tão exaltado que ouso dizer que está no top 10 das melhores canções do Queen. Com seu estilo Gospel, indubitavelmente inspirada em Aretha Franklin, o eu lírico da canção clama desesperadamente por um amor. Todo fã de Queen, ou mesmo não fã, que já esteve na situação de busca por um amor já cantarolou essa música na esperança de um dia poder achar seu verdadeiro e único amor. STL é dessas canções que marcam nossas vidas de modo especial e único.

 

Chego ao final do texto com a sensação de que realmente são obras que se complementam e que, na minha percepção, refletem o que foram os Lados Branco e Negro de Queen II. Cada álbum com sua característica única, mas que se complementam e são um prazer em ouvir.

E de novo, pelo 5º álbum seguido ninguém tocou sintetizadores.

Renato Gurgel

 

Veja outras publicações:

Queen I – uma pequena análise

 

Queen II: o álbum com dois lados opostos

 

Sheer Heart Attack: os primeiros hits começam a surgir

 

A Night At The Opera – o álbum do ‘tudo ou nada’ – Por Renato Gurgel

Cláudia Falci

Sou uma professora de biologia carioca apaixonada pela banda desde 1984. Tenho três filhos, e dois deles também gostam do Queen! Em 1985 tive o privilégio de assistir a banda ao vivo com o saudoso Freddie Mercury. Em 2008 e 2015 repeti a dose somente para ver Roger e Brian atuando. Através do Queen fiz (e continuo fazendo) amigos por todo o Brasil!

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There are 1 comments

  1. Max Marm Botias, mas na era Orkut era Max_Taylor_Botias |

    Parabéns Renato Gurgel. Excelente resenha e brilhante comparação com Queen II e os respectivos lados branco e preto. Acrescento dizendo que ao ouvir Drowse com fone de ouvido o som passando de um lado para outro chega a dar dor de cabeça ou uma sonolência e olha que sou taylorista, então quanto você a descreve dizendo “letargia que leva a um relaxamento” explica exatamente meus sentidos a ouvi-la.

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