O rock classudo do Queen

Minhas memórias de infância têm forte cunho “televisivo”. Muitas das lembranças mais vívidas que tenho da década de 80 e do começo dos anos 90 estão mescladas com programas de TV ou trechos de telejornais.

Lembro, com bastante clareza, do ano de 1991. Eu tinha nove anos.

Daquele ano, as primeiras lembranças que me vêm à cabeça são do Jornal Nacional. Por alguns dias, no começo de 91, o telejornal seguia, diariamente, o mesmo roteiro:

– Notícias da Guerra do Golfo

– Agora vamos ao vivo ao Maracanã, onde acontece o Rock In Rio 2

– Agora, mais notícias do Golfo

_ Voltamos ao vivo ao Rock In Rio

– E vamos de novo ao Golfo

– E voltamos ao Rock In Rio

Juro que era assim! A invasão do Iraque por uma coalizão liderada pelos EUA dividia os blocos do programa – e a minha atenção – com o festival de  pop rock realizado no Maracanã. Até hoje, não consigo pensar no Rock In Rio 2 sem lembrar  do New Kids On The Block de jipes Humvee cruzando dunas e aviões A-10 dando rasantes e cidadãos isralenses lacrando suas casas e comprando máscaras contra gás por medo dos mísseis Scud que o Iraque lançava e que poderiam conter armas químicas.

O Queen, que está no título deste post, não tocou no Rock In Rio 2. Mas tocou no ROCK In Rio de verdade, o de 1985. Por que, então, comecei o texto com uma referência ao ano de 1991?

Porque naquele ano houve outro grande acontecimento que chamou a minha atenção e só ficou gravado tão profundamente nas minha memória por causa da TV. Freddie Mercury, vocalista do Queen, morreu em decorrência da aids e, pouco depois, o Fantástico exibiu este videoclipe:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=4ADh8Fs3YdU]

A canção, que tinha o sugestivo título “O show tem que continuar”, foi, durante anos, a minha música preferida. O clipe, cuidadosamente montado com trechos de outros vídeos da banda, foi uma bela homenagem à vida e obra de um dos maiores cantores do rock.

Freddie Mercury era o cara. Dono de uma voz belíssima, ele também tinha uma técnica impecável. Ouça The Show Must Go On com cuidado e entenda a magnitude da estrela que se apagou em 1991.

Mas o Queen não era uma banda-de-um-homem-só. Longe disso. O grupo era um todo orgânico e coeso, em que cada integrante contribuía de maneira decisiva para a qualidade da música produzida. Eu, que era uma criança em 91, só fui descobrir isso mais tarde, quando conheci melhor a obra daqueles ingleses talentosos.

Além do virtuosismo de Mercury, a excelência da banda se deve ao guitarrista Brian May, ao baterista Roger Taylor e ao baixista John Deacon. Cada um deles é um especialista em seu próprio instrumento, com um adicional: todos eles também cantam, e essa habilidade era usada para produzir belíssimos acordes vocais, o que acabou se tornando uma das marcas registradas da banda.

O Queen soube, como poucas bandas souberam, ser uma ponte entre o rock e o pop. Suas músicas, sempre elegantes, eram apreciadas por um público muito amplo e conseguiam ser pop sem perder a energia e o espírito do rock.

Criativos e ecléticos, os caras compunham canções “com vocação para hino” (como We Will Rock You, We Are The Champions, Friends Will Be Friends), flertes com a música clássica (Bohemian Rhapsody, Who Wants To Live Forever), baladas poderosas (Love Of My Life, Spread Your Wings), odes ao pop (A Kind Of Magic, Somebody To Love) ou porradas roqueiras:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=tUg9RWfPxwg]

Em comum em todas essas músicas (você, como bom usuário de internet, sabe que é só clicar nos títulos destacados em vermelho para ouvi-las, não é?), percebemos a classe, o bom gosto, o apuro técnico, mas principalmente o feeling de músicos fora de série, que formaram uma das mais importantes bandas de todos os tempos.

Tudo isso está expresso tanta na música quando no vídeo de The Sow Must Go On, o que tanto chamou a atenção de um menino de nove anos em 1991.

O problema, como todos  (incluindo  May, Taylor e Deacon) perceberam desde sempre, é que não há como continuar o show sem Freddie Mercury. Eles bem que tentaram, chamando um cara chamado Paul Rodgers para assumir os vocais. Mas não dá. Para os fãs, o Queen digno do nome sobrevive apenas na memória, como um velho programa de TV que saiu do ar mas que não conseguimos esquecer.

Fonte: http://wp.clicrbs.com.br

Alexandre Portela

Fã do Queen desde 1991. Amante, fascinado pela banda e seus integrantes. Principalmente Freddie! =)

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