Radio Ga Ga – Por Helenita dos Santos Melo

RADIO  GA  GA

(1ª música do 11º álbum)

– Roger Taylor compõe uma homenagem a este objeto emblemático do pós-guerra, em torno do qual as famílias se reuniam: o rádio.

– Com estas palavras cheias de melancolia, o baterista, que sua cultura musical lhe deve, o elogia pelos momentos de fuga e sonho que ele lhe oferece:

I’d sit alone and watch your light/My only friend through teenage nights

(Eu me sentava sozinho e observava tua luz/Meu único amigo em minhas noites de adolescente)

– Para além da simples nostalgia – já que o gosto de Roger pela modernidade e pelas últimas tendências é bem conhecido – o que emana de Radio Ga Ga é o mal-estar de ver desaparecer este precioso aliado em benefício da televisão e, sobretudo, do próspero canal de música MTV, que faz e desfaz a carreira dos artistas.

A canção é uma mistura de várias ideias – explicaria o baterista em 1984 -. Fala do importante papel que teve o rádio desde um ponto de vista histórico, anterior à televisão, e o lugar que ocupava na minha vida durante a infância. Graças a ele descobri o rock’n’roll. Emitiam muito Doris Day, porém várias vezes durante o dia escutava também um disco de Bill Haley ou alguma canção de Elvis Presley. Na minha opinião, hoje em dia, no rock’n’roll, devido ao vídeo, a imagem se converteu em mais importante que a música por si mesma. Cada vez adquire mais importância. O que quero dizer é que a música deveria considerar-se uma experiência mais para o ouvido do que para os olhos.

– O enigmático título da canção de Roger foi inspirado por seu filho Felix. A mãe do menino, Dominique Beyrand, a quem Taylor conheceu durante o concerto em Hyde Park em setembro de 1976 (ela era a assistente pessoal do empresário Richard Branson, quem ajudou o Queen a conseguir as autorizações necessárias para o concerto), era francesa, e o pequeno Felix Taylor, que então tinha três anos, falava habitualmente a língua da mãe.

– Roger relata a cena:

Um domingo à tarde, meu filho Felix veio até mim murmurando ‘radio caca’ (a metade em francês). Disse à mim mesmo que soava muito bem!

– O baterista se encerra com todo o tipo de sintetizadores durante três dias no estúdio e propõe sua demo a Freddie, a quem de imediato a canção convence, cujo título de trabalho ainda é Radio caca.

– Uma vez trabalhada e gravada, continuam a ser adicionadas as linhas vocais. A letra se modifica então em Radio Ga Ga nos estribilhos.

– Mas apenas parcialmente… porque ao aguçar o ouvido, se escuta outra coisa, como confirmaria Brian May em 2017:

All we hear is Radio Ca Ca!’” (Tudo o que ouvimos é Radio Ca Ca!) é na verdade o que cantamos no disco!.

– Paradoxalmente jogando o jogo da MTV e videoclipes com grandes orçamentos, o grupo acompanha sua música com um vídeo dirigido por David Mallet, o cineasta que imortalizou a corrida de modelos nuas em bicicletas para o videoclipe de Bicycle Race em setembro de 1978.

– O videoclipe é filmado em dois dias no Shepperton Studios de Londres.

– No primeiro dia, gravam a banda a bordo de um veículo futurista: Roger Taylor está com as duas mãos no joystick [controle de video game], Freddie está a seu lado, John e Brian são os passageiros ligeiramente perdidos no assento traseiro (haviam escondido uma garrafa de vodka no veículo para incutir veracidade aos atores amadores).

– Estas imagens se misturam com numerosos extratos do filme Metropolis de Fritz Lang, cujo universo inspira o set da próxima turnê The Works Tour.

– No segundo dia é filmada a cena mais lendária do videoclipe:

Seria um momento inesquecível para todas as pessoas presentes nesse dia, declararia Brian May.

– Convidam ao estúdio quinhentos membros do fã clube oficial da banda, totalmente vestidos de branco, para aclamar os quatro músicos.

– Os críticos de rock britânicos – que detestam o Queen desde o início e para quem a medida não parece ser a palavra-chave – não hesitam em comparar a cena com um congresso do partido nazista em 1936.

– Para Freddie Mercury, as pessoas agrupadas ao redor da banda se assemelha à uma celebração olímpica, uma imagem muito mais lisonjeira.

– Desses dois dias sairia um vídeo emblemático da década de 1980, no qual se executa uma coreografia simples, com ambos os braços no ar, e que conclui com duas palmas, um sinal de adesão a Freddie e seus amigos.

– A imagem de todos os espectadores batendo palmas com as mãos durante o Live Aid em julho de 1985, além de provocar uma emoção imediata, fixaria para sempre a imagem do Queen no inconsciente coletivo.

– Quando aos vinte anos a jovem Stefani Joanne Angelina Germanotta começa sua carreira como cantora, seu noivo, o produtor Rob Fusari, não deixa de chama-la de Gaga, porque o timbre da sua voz recorda a canção do Queen. Nada mais foi necessário para a jovem adicionar o título de Lady ao seu nome artístico, e assim nasceu Lady Gaga.

Freddie no centro do set para o videoclipe de Radio Ga Ga, inspirado no filme Metropolis, de Fritz Lang, e dirigido por David Mallet.

 

Vídeo oficial de Radio Ga Ga

 

 

Radio Ga Ga, no Live Aid

 

Metropolis (1927) – filme completo

https://youtu.be/Sx-vMdGqL3A

 

Fonte: Queen – La Historia Detrás de Sus 188 Canciones, de Benoît Clerc

Tradução: Helenita dos Santos Melo

Cláudia Falci

Sou uma professora de biologia carioca apaixonada pela banda desde 1984. Tenho três filhos, e dois deles também gostam do Queen! Em 1985 tive o privilégio de assistir a banda ao vivo com o saudoso Freddie Mercury. Em 2008 e 2015 repeti a dose somente para ver Roger e Brian atuando. Através do Queen fiz (e continuo fazendo) amigos por todo o Brasil!

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