Entrevista definitiva de Brian May para a revista ‘Total Guitar’ – Parte 4

Parte 4

Nesta parte, Brian fala sobre as músicas: Brighton Rock (e seus delays), Now I´m Here, Stone Cold Crazy, The Prophet´s Song, Tie Your Mother down e We Will Rock You.

E comenta também a influência do Led Zeppelin, The Beatles e The Who  no som do Queen e na influência de Rory Gallagher (multi-instrumentista, compositor e produtor de rock e blues irlandês) na sua vida.

 

Londres – Junho de 1979 : Rory Gallagher fotografado para a capa do álbum Top Priority em 11 de junho de 1979. (Foto de Brian Cooke/Redferns)

 

Brighton Rock

TG: O terceiro álbum, Sheer Heart Attack, de 1974, é amplamente visto como o primeiro clássico da banda e o primeiro álbum puro do Queen. E a faixa de abertura, Brighton Rock, é uma de suas canções mais marcantes como guitarrista. É uma explosão de emoção – e, claro, o efeito de delay está lá. Dizem que essa música foi escrita na época de Queen II, mas foi guardada para Sheer Heart Attack. Qual foi a razão para isso?

BHM: Foi uma evolução lenta, aquela música. Foi tomando forma aos poucos. E o material do solo se originou em um lugar diferente. Quando estávamos em turnê com o Mott The Hoople, toquei o começo desse solo na música Son And Daughter, que está no primeiro álbum. E construí meus próprios delays – modifiquei alguns Echoplexes (Nota do tradutor: é um tipo de pedal para produzir efeito de delay) e construí trilhas longas para eles, para poder produzir esses longos delays. Eles eram assustadoramente instáveis. Eles não eram adequados para a estrada. Então era incerto se eles iam funcionar todas as noites. E eles não funcionavam todas as noites!

Eu experimentava naquele ponto com os delays, e tive a ideia de construir harmonias e contrapontos com os delays. Tornou-se uma obsessão, que na verdade ainda está lá. Ainda acho que sou meio obcecado com esse tipo de coisa. Hoje em dia, os delays são feitos digitalmente com muita facilidade. Mas há um certo charme nos antigos delays de fita. Eles não tinham um som certo, porque comecei com um delay e depois percebi que se tivesse outro delay do mesmo comprimento, poderia obter harmonias de três partes, e foi aí que fiquei realmente animado!

 

TG: Quando você mudou para o delay duplo?

BHM: Não me lembro exatamente, mas acho que logo depois do primeiro álbum. Assim que saímos em turnê – em turnê de verdade, tive dois delays.

 

TG: Então é justo dizer que as pessoas nunca ouviram Brighton Rock sem os dois delays?

BHM: Não, provavelmente não. É apenas um na versão do álbum. Mas quando chegamos  no [Álbum de 1975] A Night At The Opera, é uma coisa costumeira. Há muito disso naquele álbum, e estamos fazendo isso com os vocais também em The Prophet’s Song – colocando Freddie lá com o mesmo tipo de equipamento e encorajando-o a experimentar também.

 

Now I´m Here

TG: Além de Brighton Rock, o álbum Sheer Heart Attack tem outra canção com a sua assinatura:  Now I’m Here – impulsionado por aqueles riffs longos e sinuosos, nos quais há um eco de Black Dog do Led Zeppelin.

 

BHM: Eu devo muito para Jimmy Page, claro que o mestre do riff, e o mestre do perder-se deliberadamente no compasso, acho que essa música foi inspirada, definitivamente, pelo espírito do Zeppelin. Todas essas coisas maravilhosas que estão acontecendo quando Bonzo (o baterista do Zeppelin, John Bonham) está lançando coisas que soam como se estivessem em um compasso diferente – essas coisas sempre me fascinaram. Esses caras não estavam muito à frente de nós em idade, mas a primeira vez que ouvimos Zeppelin, pensamos, ‘Oh, meu Deus, isso é onde estamos tentando chegar, e eles já estão lá!’ Então, de certa forma, houve momentos em que sentimos como se tivéssemos perdido o barco – como se não fôssemos conseguir fazer as nossas coisas serem ouvidas. Mas nossa visão era um pouco diferente do Zeppelin, musicalmente. É mais harmônica e melódica, suponho. Mas eu nunca teria vergonha de dizer que o Zeppelin foi uma grande influência para nós, não apenas musicalmente, mas também na forma como eles se comportaram no negócio, sem fazer concessões. A maneira como eles lidavam com sua imagem, a integridade, a maneira como construíam seu show no palco – tantas coisas. Suponho que entre Zeppelin e The Beatles e The Who, você veria de onde viemos. Esse foi o tipo de plataforma de que nós saltamos.

 

Stone Cold Crazy

TG: E ainda outra faixa marcante de Sheer Heart Attack é Stone Cold Crazy, uma música tão rápida e pesada que a versão do Metallica fazia todo o sentido. Este é o exemplo definitivo do Queen em sua forma mais pesada?

BHM: Eu penso que sim. Stone Cold Crazy remonta a um longo caminho. Foi uma das primeiras músicas que tocamos juntos, então é interessante que nunca tenha entrado em uma gravação até o terceiro álbum. Isso é bastante incomum, não é? Acho que estávamos tocando Stone Cold Crazy em nossos primeiros shows. Freddie havia escrito a letra com sua antiga banda, e o riff original era muito diferente, soava como o riff de Tear It Up [do álbum de 1984,  The Works]. Então aquela versão original de Stone Cold Crazy soava como um monte de outras coisas que existiam na época, com um riff bastante descontraído. Não tinha muito ritmo. Mas eu pensei que essa letras é meio frenética, então a música deveria ser frenética também. Então eu coloquei esse riff nela, que as pessoas estão me dizendo que é o nascimento do thrash metal ou algo assim! Eu não sei sobre isso. Mas era incomum na época tocar naquele ritmo. Essa música foi um pouco divertida, realmente. Não acho que consideramos isso tão sério, talvez por isso que nunca entrou em um álbum até o número três. Mas é bom e pesado. Ainda me lembro de ir fazer a versão definitiva, e foi mais rápido do que nunca – nós apenas fomos e tocamos! É muita adrenalina: vamos nessa! Pega fogo de verdade. E gostei dos sons que tínhamos naquela época. Stone Cold Crazy é um bom exemplo de nós gravando ao vivo, mas em estúdio. E começamos a diminuir nesse ponto. Depois de dominar esse tipo de coisa, você pode se enganar pensando que é ao vivo quando estiver no estúdio. Portanto, não soa calculado – soa real e espontâneo. E nós o capturamos, acho que é tudo num take só. Não é como ficar fazendo take após take. Simplesmente tocamos. Eu diria que foi quando começamos a dominar o estúdio.

 

The Prophet´s Song

TG: No álbum mais icônico do Queen, A Night At The Opera, há um paralelo claro entre duas canções grandiosas e com vários movimentos: a épica de Freddie, Bohemian Rhapsody, e sua épica, The Prophet’s Song. E é evidente que The Prophet’s Song é uma das suas, porque realmente tem peso.

BHM: Para ser honesto, sempre considerei uma pena que The Prophet’s Song tenha sido eclipsado – porque Bohemian Rhapsody sempre iria eclipsar tudo. Assim, com The Prophet’s Song, é uma espécie de luz que se escondeu debaixo do alqueire. Mas o positivo é que é um lado profundo do Queen, no qual as pessoas entram quando começam a explorar. É uma coisa boa para eles descobrirem e ficarem entusiasmados. Mas sim, você está certo, essas duas músicas eram meio paralelas.

 

 

Tie Your Mother down

TG: Quando se trata de músicas de rock’n’roll ousadas, não há nada no catálogo do Queen tão ousado e rock ‘n’roll quanto Tie Your Mother Down, a faixa de abertura do álbum de 1976, A Day At The Races. O que você lembra sobre escrever essa música?

BHM: Escrevi o riff no topo de uma montanha vulcânica em Tenerife (uma ilha da Espanha). Mesmo. E pensei, o que vou fazer com isso? E tudo que eu conseguia ouvir na minha cabeça era Tie Your Mother Down, que não parecia ser um título de música razoável. Lembro-me de trazê-lo de volta para os meninos e dizer: Tenho esse riff, do qual todos gostaram. Quando perguntaram sobre o que era a música, eu disse: Tudo o que tenho é este títuloTie Your Mother Downque obviamente não podemos usar. E Freddie disse: O que você quer dizer com não podemos usá-la? Sim, podemos! E comecei a pensar, ok, esta é uma música sobre crescer e ficar frustrado com seus pais. E tem senso de humor! E foi bem rápido escrever aquela letra, da qual tenho muito orgulho, porque naquela época eu ainda era um menino, não era bem um homem. E essa música é o choro da frustração de um menino.

TG: É uma música que parece muito livre na performance…

BHM: Sim, há uma influência de Rory Gallagher na maneira como estou tocando as cordas assim. E eu amava Rory. Talvez devesse tê-lo mencionado antes, porque ele foi uma influência fantástica para mim. Que cara maravilhoso ele era, em todos os sentidos.

 

We Will Rock You

TG: Em 1977, o ano do punk rock, o Queen respondeu com News Of The World, um álbum de canções mais curtas e enérgicas – We Will Rock You, a mais curta e enérgica de todas. É, inegavelmente, o maior hino do rock de todos os tempos. Como você criou algo tão simples e eficaz?

BHM: A música nasceu em uma noite em Bingley Hall, em Midlands. Éramos um grupo que estava indo muito bem, tínhamos bastante seguidores e tínhamos essa coisa onde as pessoas insistiam em cantar nossas músicas. E acho que ficamos bastante irritados com isso!

 

TG: Seriamente? Porque?

BHM: Porque pensamos Pessoas, apenas ouçam. Estamos trabalhando muito, então ouça! Mas eles eram imparáveis. E nesta noite em particular, eles cantaram cada palavra de cada música, o que era bastante novo naquela época. Quer dizer, eu fui a um show do Zeppelin e eu não me lembro de pessoas cantando Communication Breakdown ou o que quer que estivessem tocando. Quando o Zeppelin tocava, eles ouviam. Eles batiam a cabeça e ouviam. E eu pensei sobre nossos shows: por que vocês, seus idiotas, não ouvem em vez de cantar?

De qualquer forma, naquela noite no Bingley Hall, saímos do palco e nos entreolhamos maravilhados, porque todo aquele canto da plateia era tão extremo. E eu disse a Freddie: Talvez, em vez de lutar contra isso, devêssemos encorajá-los. Talvez devêssemos estar mexendo com esse tipo de energia que parece estar acontecendo. E todos concordamos que isso era algo realmente interessante que deveríamos experimentar.

 

Continua…..

A primeira parte está aqui

A segunda parte aqui

E a terceira aqui

 

Fontes: www.queenonline.com e Revista Total Guitar

Fotos de Neil Preston e Total Guitar e internet

Cláudia Falci

Sou uma professora de biologia carioca apaixonada pela banda desde 1984. Tenho três filhos, e dois deles também gostam do Queen! Em 1985 tive o privilégio de assistir a banda ao vivo com o saudoso Freddie Mercury. Em 2008 e 2015 repeti a dose somente para ver Roger e Brian atuando. Através do Queen fiz (e continuo fazendo) amigos por todo o Brasil!

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