Hot Space, o álbum mais amado e odiado do Queen faz 39 anos

Hot Space é um álbum controverso. Além de ter sido um divisor de águas na história da banda, alguns fãs dizem que foi um álbum que pegou carona na cultura dance em vigor no início da década de 80. Desde o seu lançamento, em 21 de maio de 1982, ele é motivo de discussões acaloradas entre os fãs. Uns idolatram o álbum, outros o detestam! De um modo geral, na minha opinião, é um álbum médio, com músicas bem interessantes, como a icônica Under Pressure, parceria da banda com David Bowie e Las Palabras de Amor, inspirada na proximidade entre a banda e os fãs latinos, que haviam tido a oportunidade de ver a banda ao vivo no ano anterior, só para citar algumas.

Vamos entender um pouquinho o motivo desse comportamento.

Devido ao sucesso internacional de seu álbum anterior, The Game, que foi 5 vezes disco de platina, e que continha as músicas Crazy Little Thing Called Love e Another One Bites The Dust (obrigatórias em todos os shows daqui em diante), o Queen se tornou a maior banda do mundo. Após a pausa para o Natal de 1980, a banda partiu, em fevereiro de 1981 novamente para o Japão para comemorar o lançamento da trilha sonora do filme Flash Gordon. Do Japão, a banda fez shows na Argentina e no Brasil, países que na época eram governados por ditaduras militares. Na volta para Londres, cada membro do grupo usou o tempo livre de várias formas: Freddie Mercury monitorou o progresso da reforma de sua nova casa (Garden Lodge) no centro de Londres; Roger Taylor passou o tempo promovendo seu primeiro álbum solo, Fun in Space, que ele gravou no Mountain Studios em Montreux no final de 1980; Brian May, deu boas-vindas à sus segundo filha, Louisa May, para o mundo.

Em junho de 1981, a banda se juntou ao produtor Reinhold Mack, no Musicland Studios em Munique. A ideia era criar o sucessor do Flash Gordon, mas a relação entre os membros da banda havia ficado estranha, como lembrou Brian May:

“Aqui, tivemos uma mudança total de vida para todos nós, na verdade. Voltamos para Munique para fazer o próximo álbum e realmente acho que as coisas começaram a cair aqui. É um lugar sombrio. É um estúdio no porão de um enorme bloco de torre, que é um hotel. E é meio deprimente. Muitas pessoas costumavam pular do topo do prédio e se matar. Desse prédio em particular! Era muito conhecido por isso. Não sabíamos quando fomos lá.”

Mas apesar de todos os problemas, a banda queria se desafiar e sair da sua zona de conforto. Algumas músicas como Cool Cat , Staying Power, e Back Chat surgiram, e junto com elas desentendimentos entre os membros da banda, que começaram a se distanciar uns dos outros.

Em uma entrevista Reinhold Mack descreveu a situação:

The Game foi a última vez que os quatro estiveram no estúdio juntos. Depois disso, parecia que eram sempre dois deles em um estúdio e dois em outro. Você chegava um dia e dizia: ‘Oh, cadê o Roger?’ E alguém dizia: ‘Oh, ele foi esquiar. ‘Então Freddie e John rapidamente assumiram o controle da direção artística.”

Freddie e John optaram por fazer um disco mais voltado ao funk e à música dance, pois queriam repetir o sucesso de Another One Bites The Dust e Freddie era influenciado pelas músicas que ele escutava e dançava nas boates de Munique. Neste disco houve a inclusão da bateria eletrônica, pois algumas faixas foram finalizadas antes mesmo de Roger gravar a parte da bateria.

Freddie estava isolado dos outros membros do grupo e parecia seguir à risca o conselho de seu gerente pessoal Paul Prenter, que foi inicialmente contratado como assistente pessoal de Mercury. Ele se tornou gerente e aumentou a sua influência sobre o cantor. Várias vezes ofereceu conselhos que iam contra os interesses do Queen, fazendo a banda se desunir ainda mais. Prenter não era unanimidade entre os fãs e muitos deles acham que ele teve influência no sentimento de animosidade  entre os membros no grupo.

Reinhold Mack  comentou certa vez: Ele odiava guitarra e pensava que Brian era antiquado.

Taylor comentou também: Ele foi uma influência muito, muito ruim sobre Freddie e a banda, sério. Ele queria muito que nossa música soasse como se você tivesse acabado de entrar em um clube gay, e eu não fiz.

Apesar dos excessos e com a pressão de Reinhold Mack, o trabalho foi terminado em março e foi chamado de Hot Space. A carreira da banda ia de vento em popa e a lua-de-mel com o público durou até o lançamento do novo single chamado Body Language, em 19 de abril de 1982, quando ocorreu a ruptura brutal.

A música era diferente de tudo o que a banda havia feito até então: a bateria de Taylor foi substituída por uma bateria eletrônica e a guitarra de May mal aparecia, descaracterizando o som característico da banda.

Com o lançamento do álbum em 21 de maio e 1982, muitos fãs se perguntavam o que havia acontecido com a maior banda de rock do mundo. O álbum estava cheio de sintetizadores e baixos sintéticos. Era um álbum de experimentação sonora, onde haviam camadas e mais camadas de teclados, ritmos desumanizados e canções sem alma. No final, o consenso geral era de que Hot Space, não era um álbum ruim em si, mas era um álbum ruim do Queen. Mas nem todos pensavam assim, Michael Jackson, que já havia conhecido o grupo no ano anterior, declarou que a produção de Hot Space foi uma grande influência na criação de sua própria obra-prima, Thriller, que foi lançada alguns meses depois.

Algumas faixas como Cool Cat (de Deacon & Mercury) foram bem escritas, mas havia uma clara falta de coesão entre as tendências funk-disco de Mercury e Deacon, e as aspirações do rock de May e Taylor.

No lançamento do álbum, Brian tentou defender a obra:

É uma espécie de desafio, sabe, porque sempre dissemos: “OK, estamos vendendo muito bem, mas isso não é o que importa, você sabe, não é o sucesso comercial que buscamos. Estamos fazendo o que achamos que vale a pena, e se este álbum não vendesse tanto quanto os dois ou três anteriores, então estaríamos nos colocando à prova quando dizemos: ‘Bem, realmente acreditamos nisso ou não?’ e acho que a resposta seria: ‘Sim, acreditamos.’

Na turnê americana de 1982, o grupo se distanciou ainda mais, e apesar de rumores de uma nova doença que afetava a comunidade homossexual na América, Freddie saía todas as noites, se distanciando de seus amigos. A venda do álbum nos Estados Unidos foi muito ruim e a recepção a vários singles foi desastrosa. Entretanto, a turnê foi bem sucedida porque as músicas eletrônicas foram transformadas em rock para as apresentações no palco. Apesar disso tudo, nada adiantou, e o vínculo com os fãs americanos que a banda levou anos para formar, se quebrou.

Então eles decidiram dar uma pausa, e a partir de 1983, eles começaram férias merecidas de turnês e gravações.

Com o passar do tempo, vários membros do círculo íntimo do Queen ofereceram suas opiniões sobre o álbum:

Acho que é realmente um bom álbum, mas está meio ano antes do tempo, declarou Mack.

O álbum […] não estava vendendo como bolos quentes – mais como biscoitos encharcados, Peter Hince sugeriu, ironicamente.

Freddie Mercury ofereceu sua própria opinião sobre este disco, reconhecendo seu papel criativo no processo: Acho que Hot Space foi um dos maiores riscos que corremos, mas as pessoas podem se identificar com algo que está fora do normal. […] Todo esse modo de dança / funk foi basicamente minha ideia e obviamente não funcionou muito bem.

E Roger Taylor, como um roqueiro verdadeiro e que se preza, deu o seguinte veredicto no décimo álbum de estúdio do grupo:  Foi uma merda absoluta.

Músicas do álbum:

Lado A: 

Lado B: 

Fontes:
Livros:
Queen all the songs: the story behind every track – Bernoît Clerc
Queen em discos e canções – Marcelo Facundo Severo

Sites: www.queenpedia.com
www.queenvault.com

Cláudia Falci

Sou uma professora de biologia carioca apaixonada pela banda desde 1984. Tenho três filhos, e dois deles também gostam do Queen! Em 1985 tive o privilégio de assistir a banda ao vivo com o saudoso Freddie Mercury. Em 2008 e 2015 repeti a dose somente para ver Roger e Brian atuando. Através do Queen fiz (e continuo fazendo) amigos por todo o Brasil!

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